No estado de Santa Catarina as chuvas dos últimos dois meses ocasionaram a morte de mais de cem pessoas e deixaram cerca de 70 mil desabrigados. O caso serve de exemplo para o que ambientalistas alertam há tempos: os impactos do aquecimento global e da produção insustentável. Desta vez, contudo, mais do que colocar a culpa no desmatamento e queimadas da Amazônia, é necessário corrigir o erro histórico que ignora a proteção de outros biomas.
A Mata Atlântica já perdeu grande parte de sua cobertura florestal e, de acordo com os dados da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE), o Estado de Santa Catarina é apontado como o campeão nacional de desmatamento da Mata Atlântica. "Apesar de toda a calamidade, a destruição continua, com o aval de políticos e governantes do estado", diz Mario Menezes, diretor-adjunto da organização Amigos da Terra - Amazonia Brasileira.
Florestas em perigo Entretanto, enquanto ocorrem catástrofe e mortes na região, o Ministério da Agricultura e a bancada parlamentar ruralista estão forçando a aprovação, pelo Congresso Nacional, de medidas que permitem o aumento da produção agrícola brasileira não sustentável ambientalmente, com a consolidação de ocupações ilegais em áreas de preservação permanente e avanço dos desmatamentos.
Uma das propostas que podem ser votadas ainda esta semana, e contra a qual um grupo de organizações da sociedade civil acaba de se posicionar veementemente contra , prevê a alteração do Código Florestal Brasileiro, "para atender a interesses particulares, em detrimento dos da sociedade, levando a situações como as catástrofes que se abatem sobre Santa Catarina, Espírito Santo e Rio de Janeiro", afirma o ambientalista.
Nessa mesma investida, ambos, o ministério e a bancada ruralista, propõem a troca de áreas desmatadas na Mata Atlântica ou no Cerrado por floresta na Amazônia. Menezes afirma que é estapafúrdia a dicotomia produzir no Sul/Sudeste e conservar na Amazônia. "Temos que pensar os ecossistemas como um organismo, assim como o corpo humano: não dá para proteger uma parte em detrimento de outra, sem riscos para a própria vida, e o triste caso de Santa Catarina é exemplar nesse sentido". Além disso, ele continua, "essa proposta, uma vez aprovada, coloca a Amazônia também sob o risco de se tornar refém de um modelo que prioriza o desenvolvimento das regiões ricas do país, transformando-a em depositária do enorme passivo ambiental acumulado nessas regiões".
Contra a maré Além da pressão vinda do setor ruralista e do Ministério da Agricultura, o próprio Ministério do Meio Ambiente parece estar contra a defesa dos ecossistemas brasileiros. A última versão do Plano Nacional Sobre Mudanças do Clima, publicada no dia 1º, é um exemplo disto.
Nele, além de metas inadequadas de redução do desmatamento na Amazônia, que possibilitarão a destruição de, no mínimo, 70 mil quilômetros quadrados de floresta até 2017, ao invés de eliminá-la, não há nenhuma proposta para a proteção de outros biomas.
Para Cláudio Maretti, superintendente de Conservação para os Programas Regionais do WWF-Brasil, nem mesmo a maior floresta tropical do mundo está protegida. Segundo ele, todos os ecossistemas estão ausentes do plano. "Basicamente o que se diz no plano é que interessa a árvore plantada e não o ecossistema. Não há nenhuma menção ao impacto da produção de cana no Cerrado ou da especulação imobiliária na Amazônia", revela.
(Por Aldrey Riechel, Amazonia.org.br,
Adjorisc, 08/12/2008)