(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
emissões de gases-estufa
2008-12-09

O mundo enfrenta uma crise econômica de envergadura, que diz respeito a práticas financeiras incorretas que canalizam enormes recursos para a especulação. Isto acarretará, entre outras coisas, um relaxamento das medidas para reduzir os nocivos impactos sobre o aquecimento global. Porém, vale fazer presente os efeitos econômicos que este fenômeno global terá na sociedade, para evitar decisões que possam agravar a situação de penúria econômica que sempre está presente na consciência universal.

Uma quantidade crescente de evidência prática e teórica indica que o estado climático global continua perturbado pela expansão econômica, porque desde o começo do século XVIII a sociedade moderna iniciou o uso maciço de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás, que têm grandes quantidades de carbono liberado na atmosfera pelo processo de combustão. A evidência científica indica que a temperatura aumenta e mostra uma tendência ao aquecimento de 0,6 graus. Hoje sabemos que o nível atual de gases causadores do efeito estufa na atmosfera equivale a 430 partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono, em comparação com as 280 ppm estimadas para o período anterior à Revolução Industrial.

A União Européia calcula que os rendimentos agrícolas poderiam cair entre 1,9% e 22,4% no horizonte do ano 2080 nos países do sul da Europa, e prevê para então cerca de 86 mil mortes anuais adicionais no conjunto do bloco, devido ao calor. Em Wall Street acredita-se que um furacão tão destrutivo quanto o Andrew, que golpeou Miami em 1992, representaria danos equivalentes a um terço do capital do setor dos seguros contra acidentes. A Organização das Nações Unidas prevê que as secas afetarão principalmente a população desnutrida do mundo, calculada em cerca de 830 milhões de pessoas, composta por pequenos agricultores, pecuaristas e trabalhadores de fazendas.

As projeções para as áreas do leste da África que dependem das chuvas, que já estão sofrendo secas e fome, indicam perdas potenciais de rendimentos de 33% para o milho. Duzentos milhões de pessoas serão deslocadas pelo aumento do nível do mar e estima-se o desaparecimento de um sexto da população mundial, isto é, um bilhão de pessoas. Assim também poderiam desaparecer entre 15% e 40% das espécies, e as populações de peixes se veriam severamente ameaçadas. Os pobres do mundo serão os mais afetados, e a mudança climática constitui uma séria ameaça à possibilidade de reduzir a pobreza.

Segundo o Instituto Alemão de Pesquisa Econômica, as catástrofes naturais dos últimos dez anos causaram prejuízos superiores a US$ 33 bilhões. Esta quantia é seis vezes maior do que os danos causados há 50 anos, e os custos para as seguradoras se multiplicaram por dez nesse período. O Informe sobre a Economia da Mudança Climática, feito por Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial, diz que o custo da falta de ação ficaria entre 5% e 20% do produto interno bruto mundial. O aquecimento global seria mais prejudicial do que a Primeira ou a Segunda Guerra Mundial, podendo despertar uma crise equivalente à grande depressão de 1930.

Segundo Stern, são quatro as formas de baixar as emissões de gases de efeito estufa: redução da demanda por bens e serviços intensivos em emissões, aumentar a eficiência energética, evitar o despovoamento florestal e usar tecnologias mais baixas em emissões de carbono. Isto poderia criar novas oportunidades em uma ampla gama de indústrias e serviços já que, até 2050, é provável que os mercados de produtos energéticos baixos em carbono tenham um valor mínimo de US$ 500 bilhões anuais, ou mais.

Por outro lado, a erradicação das ineficiências energéticas abriria oportunidades de economia para as empresas, eliminaria os subsídios que produzem sinais econômicos equívocos e que custam anualmente aos governos do mundo cerca de US$ 250 bilhões, além de reduzir o custo por doenças e mortes devidas à poluição atmosférica. Um dos principais instrumentos econômicos propostos por Stern é o estabelecimento de um preço para o carbono, mediante a imposição de impostos ou regulamentações.

Em termos econômicos, os gases de efeito estufa são uma demonstração externa negativa, isto é, quem produz emissões desses gases contribui para a mudança climática e impõe um custo não menor ao mundo e às futuras gerações, sem que tenha de enfrentar plenamente as conseqüências de suas ações. A destinação de um preço apropriado ao carbono – por meio de um imposto, por exemplo – significaria fazer os emissores de dióxido de carbono pagarem o custo que repassam ao mundo.

Outras medidas propostas por Stern têm relação com políticas que apóiem o desenvolvimento de uma gama de tecnologias altamente eficientes e baixas em carbono, bem como políticas voltadas a eliminar as barreiras à mudança de práticas e costumes, como as que impedem o uso maciço de energias renováveis.  O interessante é que, apesar dos enormes custos estimados por Stern, não existe um olhar catastrófico, e afirma que reduzir as emissões de dióxido de carbono agora representaria o custo de apenas 1% do PIB.

O aquecimento global é um problema grave, mas também nos dá a oportunidade para as mudanças necessárias em favor de uma ordem melhor e mais segura, não apenas para os 10% mais ricos da humanidade, mas também para os pobres, que, nas atuais circunstâncias, com ou sem mudança climática, são os perdedores do amanhã.

(Por Marcel Claude*, Terramérica, Envolverde, 08/12/2008)
* O autor é economista da Universidade do Chile. Direitos exclusivos Terramérica.


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -