As autoridades federais suíças analisam três pedidos de construção de novas usinas nucleares. Duas seriam suficientes para cobrir a futura demanda de energia do país, mas para os críticos até estas seriam demais. Não só ecologistas, mas também a imprensa e um grande vizinho - a Alemanha - criticam os projetos. Se as três centrais forem construídas, daqui a 20 anos, a Suíça irá nadar em energia.
De acordo com os pedidos das empresas BKW e Axpo, duas novas usinas com capacidade máxima de 1.600 megawatts cada seriam construídas perto de duas já existentes, em Beznau, no estado de Aarau (norte) e Mühleberg (14 km a oeste de Berna, no centro do país). A terceira, da Atel, seria na região de Gösgen/Solothurn (centro), com capacidade anual entre 1.100 e 1.600 megawatts.
Se todas as três forem construídas, a partir de 2030, a Suíça disporá de 55 bilhões de kilowatt/hora (kwh) de energia nuclear, mais do que o dobro da produção atual, que é de 26,5 bilhões de kwh, cerca 40% da produção de energia helvética.
Junto com a energia hidrelétrica, solar, eólica e de biomassa, a produção total então chegaria a 95 bilhões de kwh. "A Suíça nadaria em energia", critica o jornal Basler Zeitung, de Basiléia. O consumo total atual é de 60 bilhões de kwh.
Prós e contras
Durante uma apresentação de seus projetos à mídia, em Berna, representantes da BKW e do grupo Axpo disseram que, para substituir os reatores de Mühleberg e Beznau I e II, que serão desativados por esgotamento da vida útil, bastam duas novas usinas.
Por isso, as duas empresas tentam fechar um acordo com a Atel para tirá-la da disputa. A Atel disse que vai esperar os prós e contras das discussões que vão preceder o plebiscito previsto para 2013 sobre a construção das novas usinas. "O setor deve fechar um acordo para apenas mais uma nova usina", propõe o jornal Tages-Anzeiger, de Zurique. Mais de um projeto dificilmente seria aprovado pelo povo (veja na coluna à direita o roteiro para aprovação de uma nova usina nuclear na Suíça).
Erro de cálculo?
"Três projetos de centrais significam um, dois ou três projetos demais", escreve o jornal gratuito 24 heures, de Lausanne. O jornal lembra que o Ministério do Meio Ambiente planeja baixar o consumo de energia do país a ponto de ser necessária apenas uma usina nuclear. Atualmente, há cinco reatores em operação.
As empresas não acreditam nas boas intenções do ministério e argumentam que o consumo de energia tende a aumentar. Falam da desativação obrigatória dos reatores de Mühleberg e Beznau e que, em 2018, terminam os contratos de importação de energia nuclear francesa.
"No total, a partir de 2035, precisam ser compensados 3.100 megawatts por ano. Sem novas usinas, faltaria quase um terço da energia elétrica consumida na Suíça", diz Heinz Karrer, CEO da Axpo Holding AG.
Sonhos, pesadelos e ideologias
"Nada de (pesadelos)-sonhos na política energética", pede o Neue Zürcher Zeitung. As três propostas refletam a concorrência no mercado de ernergia. No máximo, duas centrais receberão um amplo apoio político, prevê o diário de Zurique.
Devido ao moroso processo de aprovação de projetos de energia nuclear, as novas usinas, se forem construídas, deverão entrar em operação somente por volta de 2025. Cada reator vai custar em torno de seis bilhões de dólares.
Somente a apresentação dos pedidos para uma avaliação preliminar já despertou o bloco de oposição à energia nuclear, formado nos anos de 1970 pela esquerda e por movimentos ecologiastas que rejeitam essa tecnologia.
Ceticismo no país, protesto dos vizinhos
Já a vizinha Alemanha critica que os projetos estão previstos para locais muito próximos à fronteira. "Esperamos dos nossos vizinhos suíços que procurem outros lugares para construir suas usinas", disse o deputado estadual Tilman Bollacher, da região de Waldshut, no sul da Alemanha.
De acordo com pesquisas de opinião realizadas pelo governo federal, a maioria dos suíços é cética em relação à energia nuclear. No último domingo, a população de Zurique, por exemplo, decidiu que a prefeitura não deve mais participar de projetos desse tipo de energia.
No entanto, em dois plebiscitos federais realizados em 2003, o povo – que é o "soberano" na Suíça – decidiu que, na área de energia, não quer experimentos duvidosos e que aceita a energia nuclear como componente necessário da segurança energética.
Pesadelo do lixo
O "pesadelo nuclear", nesse contexto, é que a Suíça procura há três décadas um local adequado para construir um depósito final do lixo atômico. Por enquanto, ele é transportado para depósitos intermediários em Sellafiled (Inglaterra) e La Hague (França), mas um dia voltará ao país.
A Cooperativa Nacional para Depósito de Lixo Radioativo (Nagra) diz que, tecnicamente, é viável contruir um depósito desses a cerca de 750 m de profundidade na Suíça. Só que ninguém, nos lugares em isso seria possível, quer o lixo.
(Por Geraldo Hoffmann, swissinfo, 06/12/2008)