Os efeitos, para os seres aquáticos, dos efluentes de fábricas de celulose e papel, tratados e não tratados, assim como as ações necessárias para minimizá-los, serão discutidos por cientistas e especialistas, a partir da próxima segunda-feira (8), no Seminário Internacional sobre Estudos Ecotoxicológicos com Efluentes de Celulose e Papel: Peixes, em Vitória.
Serão apresentadas medidas referentes tanto ao processo produtivo quanto ao tratamento dos efluentes. Para isso, participam pesquisadores canadenses, que já realizaram estudos sobre o tema em diversos países. Eles vão apresentar as metodologias usadas para avaliar os impactos em curto e em longo prazos, e como é feito o controle no Canadá. Além disso, vão dar orientação sobre como conseguem identificar a origem do fator toxicológico.
De acordo com a pesquisadora e diretora técnica da Aplysia Tecnologia para o Meio Ambiente, Tatiana Furley, a indústria de celulose e papel ainda estuda como remover dos efluentes os fitohormônios provenientes da madeira, que estão dissolvidos. Hoje, são poucos os pesquisadores que se dedicam aos estudos ecotoxicológicos, e a intenção é divulgar o método no Brasil.
Tatiana buscou nos Estados Unidos uma técnica registrada na EPA (United States Environmental Protection Agency) que pudesse facilitar a identificação de componentes tóxicos em um espaço menor de tempo, de três a seis meses. Como não havia nada formatado para o setor, ela partiu para o desenvolvimento de uma pesquisa com mais de 600 testes, para chegar a uma metodologia ideal para fábricas de celulose e papel, reduzindo o tempo de procura pelos agentes poluidores.
Para analisar os danos, a técnica comum é coletar amostras dos efluentes e colocar seres vivos em contato com eles, como pequenos crustáceos, para então avaliar se houve algum efeito, como lentidão, efeitos na reprodução ou mortes.
Segundo a Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), um efluente do setor de papel e celulose pode conter dois mil compostos. Quando algum deles está causando danos ao meio ambiente, as fábricas precisam identificar qual é ele, exatamente, para então poder procurar soluções dentro do processo de produção. Trabalho que pode levar até dois anos, se feito de forma aleatória.
Por ser um processo altamente poluente, a Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), de nº 357/2005, obriga as empresas brasileiras a controlar sua toxicidade e estabelece a quantidade máxima de diversos elementos que podem estar presentes, para que não causem efeitos nos seres vivos do corpo receptor, como rios e lagos.
Os impactos ambientais causados por essas descargas líquidas são um problema grave. Estudos desenvolvidos no Canadá apontam que os peixes expostos aos efluentes de fábricas de celulose e papel, normalmente mostram, de forma consistente, a evidência de aumento na disponibilidade alimentar (fígados mais gordos, maiores, de crescimento mais rápido), com perturbação de alocação para reprodução (gônadas menores).
No Espírito Santo, são muitos os impactos causados pela monocultura do eucalipto promovida pela Aracruz Celulose. Além de devastar 50 mil hectares da mata atlântica, somente na sua instalação, durante a ditadura militar, a transnacional ocupa e degrada terras dos índios e quilombolas, no norte do Estado. Nas localidades onde está presente o eucalipto, o cenário é de total destruição e miséria. Não há mais matas, rios e animais. Estão contaminados pelos venenos usados nas extensas plantações.
O seminário acontece até quarta-feira (10), das 9h às 18h, no Bristol Century Plaza, na Praia de Camburi, em Vitória.
(Por Manaira Medeiros, Século Diário, 05/12/2008)