Grupos beneficiados serão Odebrecht, Bertin e Iaco A situação do setor sucroalcooleiro não é boa, devido à crise financeira que secou a fonte de crédito para as empresas. Com muito investimento e dívidas de curto prazo, a falta de liquidez trouxe aperto ao setor.
Quem tiver condições para suportar a travessia dessa ponte até que a economia responda de forma mais vigorosa vai encontrar um mercado bastante favorável pela frente. Essa é a avaliação do mercado.
Com participação cada vez maior nesse setor, o BNDES liberará R$ 1,8 bilhão para cinco novas usinas, de três grupos empresariais.
Eduardo Pereira Carvalho, diretor de relações institucionais da ETH, controlada pelo grupo Odebrecht e que recebeu R$ 1,15 bilhão (64% do total), afirma que "é preciso trazer de volta uma visão de médio e longo prazos ao setor, independentemente das agruras atuais do dia-a-dia".
Segundo Carvalho, o potencial do setor é grande nos próximos anos e a ETH manterá os investimentos programados.
Na safra 2009/10, a empresa espera moer 8 milhões de toneladas de cana, volume que deve aumentar para 25 milhões em 2012/2013. Uma das últimas a entrar nesse setor, a ETH quer se tornar a líder brasileira, com a moagem de 45 milhões de toneladas a partir de 2015/16.
Os recursos a serem repassados pelo BNDES servirão para cobrir 60% do investimento de R$ 1,92 bilhão que a empresa fará na primeira fase do projeto, que inclui a montagem de três usinas. Os outros 40% vêm de recursos da Odebrecht e da parceira Sojitz Corporation.
Na segunda fase do investimento, ela prevê a construção de mais três usinas. Dessa vez, ela espera obter recursos no mercado japonês. O projeto inclui uma terceira fase, quando serão atingidas 45 milhões de toneladas de cana moída.
O crédito do BNDES, bastante disputado devido à escassez, favorecerá também os investimentos dos grupos Bertin e Bumlai e Iaco Agrícola -sociedade dos grupos Grendene, Irmãos Schmidt e do empresário André Esteves (ex-Pactual).
Para a diretoria do Bertin, que entrará no setor sucroalcooleiro com o projeto da usina São Fernando, em Dourados (MS), o financiamento é importante e proporciona as condições financeiras adequadas ao empreendimento.
CenáriosO cenário do setor sucroalcooleiro "a curto prazo está meio difícil, devido à situação financeira", diz Carvalho. Ele acredita em fusões e não descarta uma eventual participação da ETH nesse movimento, "mas sempre dentro da nossa filosofia de produção, que envolve eficiência, mecanização, custos baixos e tecnologia".
Quanto ao petróleo, há uma incógnita, diz Carvalho. Ele acredita que, no longo prazo, o preço do óleo seja crescente e não fique abaixo de US$ 60. O álcool passa a ser competitivo com o petróleo a US$ 45.
Os desembolsos do BNDES com o setor sucroalcooleiro somaram R$ 5,7 bilhões até o início deste mês, 8% do total de R$ 73,1 bilhões despendidos pelo banco neste ano.
(Por MAURO ZAFALON,
Folha de S. Paulo, 05/12/2008)