Brasil financia pesquisa ao interior do continente pela primeira vez
Uma missão científica comandada por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) começou a fazer história na Antártica. Ontem, os cientistas instalaram o primeiro equipamento de pesquisa, dando início simbólico à expedição Deserto de Cristal (referência à paisagem encontrada), a primeira ao interior do continente de gelo financiada pelo governo do Brasil.
Nos últimos 25 anos, o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) realizou expedições no oceano, nas ilhas e na costa da Antártica. Nunca as missões científicas avançaram no continente. O equipamento instalado é uma estação de amostragem de ar, montada por três dos oito cientistas a 15 quilômetros do acampamento da expedição, inaugurado na segunda-feira a 2,2 mil quilômetros ao sul da Estação Antártica Comandante Ferraz e a mil quilômetros do Pólo Sul Geográfico. Nessa latitude, o sol brilha 24 horas, a espessura do gelo é de 700 metros, e a altitude, de 920 metros.
Para percorrer os 15 quilômetros do acampamento até onde foi erguida a estação, a equipe usou motos de neve e levou duas horas e 30 minutos, enfrentando uma temperatura de -30°C e rajadas de vento de até 70 km/h.
– Será necessário uma viagem diária à estação para coletar informações e fazer manutenção do equipamento – disse ontem, por telefone, o coordenador da missão, o glaciólogo gaúcho Jefferson Simões, 50 anos, da UFRGS.
Os informes fornecidos pela estação integrarão a pesquisa dos cientistas sobre a qualidade do ar. Eles procuram verificar, por exemplo, se existem partículas de queimadas no ar da Antártica. O Brasil está entre os países onde esta prática é comum. No Norte e no Centro-Oeste, queima-se o pasto e, no Litoral, a palha de cana.
A expedição fica na Antártica até janeiro. Segunda-feira, quatro pesquisadores deverão se deslocar do acampamento, de avião, a uma distância de 300 quilômetros até o Monte Johns, que tem 2,2 mil metros de altura, para coletar amostras de gelo.
Segundo Simões, o cotidiano da equipe tem sido de muito trabalho. Os cientistas estão dormindo, em média, seis horas e abrigados em barracas polares e em um módulo de fibra de vidro deixado pelos chilenos no local.
(Carlos Wagner, ZH, 04/12/2008)