O presidente do Painel Intergovermental para as Alterações Climáticas (IPCC) e Nobel da Paz em 2007, Rajendra Pachauri, diz-se admirado com as distorções nas respostas a alguns dos maiores problemas internacionais, nomeadamente com o facto de se investirem milhões de dólares para salvar um sistema bancário em crise, quando a luta contra a pobreza ou contra as alterações climáticas não conseguem mobilizar fundos.
Numa entrevista à AFP, à margem da conferência das Nações Unidas sobre o clima a decorrer em Poznan, Polónia, até dia 14, Pachauri fala de um verdadeiro “desafio à lógica”. “É verdadeiramente estranho o que se passou nestes últimos dois, três meses”. “Desafia toda a lógica se pensarmos no dinheiro gasto nestas acções de resgate, assim tão rapidamente, sem interrogações”, comenta.
Pachauri lembra, em comparação, a adopção em 2000 pela ONU dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio, relativos à redução da pobreza e das desigualdades no mundo. “Quando os objectivos foram pensados e planificados, o antigo Presidente do México Ernesto Zedillo, que presidia o comité, fez uma modesta proposta de 50 mil milhões de dólares (cerca de 39 mil milhões de euros) por ano em favor das regiões do mundo que simplesmente não tinham os meios para cumprir esses objectivos. Mas todos fizeram chacota e ninguém teve o menor gesto”.
“Hoje, as agências e organizações que são responsáveis pela sua própria queda e pela falência de todo o sistema beneficiam de montantes como 2700 mil milhões de dólares (cerca de 2100 mil milhões de euros)!”.
Para Rajendra Pachauri, estes casos ilustram a “distorção” do sistema económico.
O responsável pelo IPCC não esquece ainda as emissões de gases com efeito de estufa, acusadas de serem as responsáveis pelas alterações climáticas. “Se não agirmos agora, os impactos das alterações do clima vão agravar-se progressivamente até um ponto – que já é o caso em algumas regiões do mundo – em que os prejuízos serão consideráveis”.
A altura é a mais indicada para inverter padrões de acção. No âmbito da crise económica, “vai ser realizada uma vasta reavaliação das formas de crescimento económico”. “Acredito que iremos assistir a uma grande mudança para uma utilização mais eficiente dos recursos naturais e de energia”.
A conferência em Poznan, até 14 de Dezembro, deve preparar as negociações de um novo acordo contra as alterações climáticas, que suceda ao Protocolo de Quioto, que expira em 2012. Este acordo deverá estar concluído no final de 2009, em Copenhaga. Desta vez deve incluir os Estados Unidos, que rejeitaram ratificar Quioto.
Rajendra Pachauri espera encontrar-se o mais rápido possível com o Presidente norte-americano eleito Barack Obama para lhe dar conta do seu sentimento de urgência. “Se puder estar com ele dez minutos, é tudo o que eu preciso”, garante.
O IPCC é um organismo científico criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial e pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente para disponibilizar aconselhamento independente sobre as alterações climáticas.
(AFP, Ecosfera, 04/12/2008)