RIO - A planta medicinal da Amazônia unha-de-gato pode vir a ser uma eficiente arma natural contra a dengue. Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) observaram que os extratos da uncaria tomentosa inibem a produção de citocinas, que são moléculas inflamatórias. Essa substância, em estudo inicial, poderia diminuir os sintomas da dengue, como hemorragia e pressão baixa, que geram riscos para o paciente.
Os pesquisadores observaram em pacientes infectados pela dengue que as citocinas estão diretamente associadas à gravidade da doença, então começaram a estudar em laboratório substâncias que as inibem.
– O objetivo é descobrir um remédio que diminua a gravidade dos sintomas da dengue, tornando-a mais branda, sem risco de vida – explica a pesquisadora Claire Kubelka do Laboratório de Imunologia Viral do IOC. - Quem sabe a dengue não se torna uma febre boba.
Cerca de 15 substâncias originadas de plantas estão sendo pesquisadas. Vindas da Amazônia oucultivadas no Rio, são plantas já usadas para fins medicinais. Porém, seus nomes ainda não podem ser divulgados por questão de patente.
– Resolvemos buscar um tratamento para a dengue nessas plantas por elas já serem usadas em caso de infecções e outras doenças – afirma Claire. – Além disso, se essas plantas estiverem em abundância na natureza, os medicamentos terão um baixo custo de produção.
Em fase inicial, as substâncias só foram estudas em células de voluntários no laboratório, e não em em animais. Segundo Claire, apenas um número limitado de substâncias foi analisado, então será preciso fazer mais testes.
– Vamos estudar melhor as moléculas selecionadas na triagem, analisar os mecanismos de ação, e num passo posterior, testar em animais. Se tudo correr bem, passaremos para a fase clínica, mas isso deve demorar alguns anos – avalia Claire, que frisa que a unha-de-gato em questão passou por uma semi-purificação. – Não garantimos que a planta unha-de-gato que existe no comércio vai agir da mesma forma. Não usamos a planta toda, apenas uma fração dela.
Hidratados
A pesquisa vem sendo realizada há cerca de quatro anos e é resultado de uma tese da pesquisadora Sônia Reis, em colaboração com o setor de hemoterapia do Hospital Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A cientista utilizou monócitos (células de defesa presentes no sangue) de doadores saudáveis, infectados pelo vírus da dengue tipo 2.
Esse pode ser o primeiro passo no desenvolvimento de um fármaco de origem natural contra a dengue. Atualmente, não existem medicamentos específicos para o tratamento da doença, que é baseado em manter os pacientes hidratados.
(Por Cecilia Minner, Jornal do Brasil Online, 03/12/2008)