Ambientalistas mais engajados sentem, em geral, profunda revolta frente ao massacre a que são submetidas espécies de baleias, todos os anos, sobretudo pela indústria do setor no Japão. Essa causa em comum tornou-se, contudo, pomo de discórdia entre duas grandes ONGs internacionais: a Sea Shepherd e o Greenpeace.
A Sea Shepherd publicou em seu site notícia em que pergunta: "o Greenpeace está assustado ou simplesmente cansado de aparecer no Santuário das Baleias do Oceano Meridional ano após ano?"
"Eu não sei o real motivo pelo qual eles decidiram não enviar um navio e tripulação em oposição à frota baleeira japonesa. Eu sei que por dez sólidos meses eles estiveram batendo em portas, enviando milhões de e-mails de mala direta, financiando uma grande campanha publicitária e angariando fundos nas ruas das cidades ao redor do mundo, articulando, apelando e persuadindo pessoas a doarem dinheiro ao Greenpeace para salvar as baleias", diz a Sea Shepherd.
Em outro momento da notícia, a ONG coloca ainda que a porta-voz de mídia do Greenpeace, Sara Holden, escreveu "Nós queremos que saibam antes de anunciarmos à imprensa que nós não enviaremos um navio à zona baleeira no Oceano Meridional este ano. Ao invés disso, estaremos direcionando todos nossos esforços através de um trabalho no Japão, onde acreditamos que a caça às baleias terminará para sempre, e onde dois de nossos ativistas encaram a prisão por expor a corrupção e o escândalo da indústria baleeira."
Sobre isso questiona a Sea Shepherd: "Bem, Sara, não foi para isso que você arrecadou dinheiro e certamente vocês têm fundos suficientes para fazer ambos" (para ler a íntegra, clique aqui).
O navio da Sea Shepherd parte hoje do porto de Brisbane, na Austrália, rumo ao Santuário das Baleias na Antártida, para iniciar a caça aos navios baleeiros japoneses. A tripulação incluí a atriz americana Daryl Hannah.
Fala o Greenpeace
Segundo a coordenadora da Campanha de Oceanos do Greenpeace Brasil, Leandra Gonçalves, responsável pela Campanha em Defesa das Baleias, a posição da entidade é não comentar as acusações da Sea Sheperd, “para não desviar o foco de um problema bem maior, que é a caça comercial pobremente disfarçada de ciência realizada pelo governo japonês, com dinheiro dos impostos da população japonesa”.
“O Greenpeace há mais de 30 anos faz campanhas em defesa das baleias, por nove anos esteve na Antártica, já alcançou muitos objetivos e não necessita para isso estar todos os anos nos mares do Sul”, disse Leandra a AmbienteBrasil.
“Para defender as baleias, é necessário ser estratégico, e a cada ano temos prioridades a serem seguidas para alcançar um objetivo maior, que é acabar de uma vez por todas com a caça de baleias na região Antártica”, prossegue.
Ela relata que, no ano passado, o Greenpeace foi até os mares do Sul e impediu que mais de 100 animais fossem caçados. “Em seguida, quando a frota baleeira retornou ao porto, fizemos uma denúncia de roubo de carne de baleias, que deveriam ser usadas apenas para a ‘pesquisa’”.
O Greenpeace denunciou e comprovou que funcionários do governo japonês estavam roubando pedaços de carne para vender no mercado ilegal. “Esse foi o maior escândalo”, avalia Leandra. “No entanto, o governo japonês considerou nossos ativistas como criminosos, eles passaram 26 dias na cadeia e continuam respondendo ao processo em liberdade”.
O Greenpeace considera injusta a criminalização do ativismo ambiental, criminalização que deveria, na visão da entidade, ser voltada ao governo japonês e não aos ativistas, “que estavam apenas expondo a verdade”.
“Esse ano, consideramos mais estratégico a mudança de decisão do governo japonês e, portanto, toda nossa estratégia está voltada para a parte política no Japão e articulações para conseguir manter a maioria de países conservacionistas durante as reuniões da Comissão Internacional da Baleia”, diz Leandra Gonçalves, reafirmando que prefere não comentar a posição da Sea Shepherd.
“Nunca foi perfil do Greenpeace criticar o trabalho da Sea Shepherd; apenas atuamos de forma diferente para acabar com o problema bem maior que é a caça de baleias no Santuário Antártico”.
(Por Mônica Pinto, AmbienteBrasil, 03/12/2008)