Os jogos tradicionais realizados ao longo da história dos índios Terena, instalados no Estado do Mato Grosso do Sul, estão sendo abandonados pelos jovens. O contato com a sociedade urbana trouxe para os indígenas sérias mudanças nos hábitos cotidianos e esportivos. Hoje, entre as principais práticas, estão o futebol e o voleibol, que são bastante disseminados nas culturas urbanas. Foi o que apontou a pesquisa desenvolvida por Aluísio Fernandes de Souza e apresentada na Faculdade de Educação Física (FEF) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp/SP). O estudo foi orientado pela professora Maria Beatriz Rocha Ferreira.
“Os índios conhecem bem as regras dos dois esportes, e acredito que a responsabilidade pela adoção das práticas deve-se à influência do contato com a população local ao longo de 200 anos”, destaca Souza, que constatou, entre os jovens, um desconhecimento de tradições centenárias como jogos da argolinha, dança do bate-pau e o arco e a flecha.
A Sociedade Indígena Terena pertence ao grupo étnico Guaná e à família lingüística Aruák. Segundo Souza, eles sempre tiveram bom relacionamento com a população urbana até os conflitos gerados na Guerra do Paraguai. “A luta por terras e a espoliação territorial desencadeada extraíram da etnia o espaço necessário para reproduzir seus hábitos, e a levou mais próxima de áreas urbanas”, argumenta Aluísio de Souza.
O estudo envolvendo uma das aldeias indígenas mais numerosas daquele Estado investigou, pela primeira vez, o nível de atividade física, relacionando-o ao processo de mudanças sociais. A partir de questionário aplicado para um contingente de 83 voluntários, entre líderes esportivos e jovens e adultos de ambos os sexos, o estudo focou as aldeias Buriti e Córrego do Meio, do Pólo-Base de Sidrolândia, no estado de Mato Grosso do Sul. “De todos os relatos, apenas um apontava para o conhecimento das práticas mais tradicionais”, atesta o autor da pesquisa.
O professor de Educação Física realizou ainda um levantamento do percurso histórico da atividade física entre os índios, contemplando aspectos da história étnica, mitos e territorialidade. Isto porque, em estudos anteriores realizado pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), foi apontado um crescente índice de obesidade e de diabetes mellitus nos últimos anos. Como o desenvolvimento dessas doenças está relacionado diretamente à falta de atividade física, Souza quis saber qual o grau de inatividade na população Terena. Pelos resultados, entre os índios mais velhos, ele identificou o seu aumento. “Houve redução nas atividades de extrativismo. As mulheres evidenciaram ser o grupo de maior incidência de sobrepeso e obesidade”, relata.
Por outro lado, o grupo de jovens pesquisado pode ser indicado como ativos e muito ativos fisicamente, resultado ocasionado, segundo Souza, provavelmente pela prática freqüente de caminhada e pedalada na rotina cotidiana.
(Por Raquel Carmo Santos, Jornal da Unicamp, 03/12/2008)