O maior centro de reciclagem de lixo eletrônico do hemisfério sul foi inaugurado semana passada em Villawood, Sidney, na Austrália. Embora a intenção seja louvável e tenha como objetivo reduzir parte das centenas de milhares de toneladas de resíduo tecnológico (e-waste) gerados pelo país anualmente, ambientalistas e especialistas taxam de atrasada a política federal em relação aos demais países e cobram do governo uma norma nacional sobre reciclagem e eliminação do lixo eletrônico.
Jon Dee, fundador da organização Planet Ark e um dos primeiros militantes ecologistas do país, acredita que a planta será mal aproveitada, já que não foi introduzido ainda pelo governo um esquema nacional que facilite à população reciclar seus eletrônicos antigos. "Uma planta não é suficientemente boa amenos que você tenha uma fonte constante de resíduos que entrem nela", comenta.
A indústria de tecnologia e informação (TI) também está clamando por um esquema apropriado. É estimado que mais de 2 milhões de TVs e 1.6 milhão de computadores sejam aposentados este ano em troca de aparelhos maiores e melhores. Companhias como a Dell e a HP já oferecem programas que prevêem a reciclagem de computadores, mas, segundo Jon Dee, essas iniciativas são ineficazes por si só.
"Nós não podemos lidar com todos os computadores que estão sendo rejeitados diariamente aqui na Austrália", diz Jeremy Sutcliffe, diretor-executivo da companhia que opera a planta, a Sim's Recycling Solutions, subsidiária da Sims Metal Management, a menos que o governo torne a reciclagem do material compulsória. "O índice de reciclagem eletrônica tem sido muito pobre, com menos de quatro por cento sendo processado", informa.
Não há, no entanto, até o momento, nenhum compromisso formal e concreto estabelecido pelo ministro do meio ambiente australiano Peter Garrett. "O que eu quero fazer é desenvolver uma política de resíduo nacional", resumiu o ex-vocalista da banda de rock Midnight Oil no dia do lançamento da nova planta, se abstendo de maiores informações sobre uma nova legislação a respeito.
As manifestações contrárias se devem ao percentual reciclado hoje no país. Atualmente, apenas 4 por cento do total de lixo eletrônico gerado anualmente na Austrália é tratado, parcela irrisória se comparado aos 80 por cento reciclados na Europa e em algumas partes dos Estados Unidos.
Ambientalistas sugerem uma taxa de reciclagem de cerca de 30 dólares australianos em cima de cada computador vendido ou importado. Esse valor arrecadado, afirmam, seria devolvido ao consumidor tão logo seu aparelho antigo fosse encaminhado a uma central de reciclagem.
Risco ambiental
Os australianos, um dos maiores consumidores de computadores no mundo, produzem uma taxa muito elevada de resíduos eletrônicos, segundo relatório publicado pelo Escritório de Estatística do país. Essa tendência ameaça uma possível crise de dimensões impossíveis de serem avaliadas - já que muitos componentes têm substâncias contagiantes e tóxicas.
Segundo as estimativas oficiais, com uma população de apenas 20 milhões de habitantes, para o fim deste ano um total de 8,7 milhões de computadores serão jogados fora. Não há estimativas, entretanto, sobre quantos aparelhos, entre gravadores de vídeo, leitores de DVD, fornos de microondas, telefones celulares, câmeras fotográficas digitais e outros que terminam no lixo. "É um problema oculto. Ninguém conhece suas dimensões reais", dizem os pesquisadores do relatório.
Muitos desses produtos eletrônicos contêm substâncias perigosas que causam riscos ambientais se forem mal descartados. Monitores e os velhos tubos catódicos de televisão, por exemplo, contém uma quantidade alta de mercúrio, níquel, zinco, bromo, além de outras substâncias. "Alguns destes materiais são persistentes e podem ser concentrados em altos níveis na cadeia alimentar", informa o documento.
Planta
A planta tem a capacidade de processar cerca de 20 mil toneladas de lixo eletrônico anualmente. No entanto, embora a imensa capacidade, esta é apenas uma pequena fração do lixo eletrônico gerado (entre 120 mil e 140 mil toneladas) pelos aussis, como são chamados os australianos, todos os anos. Estimativas dão conta de que este tipo de resíduo está crescendo de três a cinco vezes mais rápido que outros tipos de resíduos.
(Por Tatiana Feldens, Ambiente JÁ, com informações de agências, 03/12/2008)