O corte de uma árvore localizada entre as ruas Germano Petersen e avenida Cristóvão Colombo, no bairro Higienópolis em Porto Alegre provocou uma verdadeira comoção na vizinhança. Eles relatam que a árvore, um guapuruvu lindíssimo, não tinha problema algum. "Nenhuma marca de fungo, nenhum furinho de cupim", lamenta a ambientalista e vizinha do falecido, Maria Elisa Silva, da ONG União Pela Vida (UPV).
Para ela, não há justificativa para o que é injustificável.
Inclusive fez um filmezinho para registrar o ocorrido. "Na filmagem que fiz se ouve perfeitamente o som de madeira sólida, muito sólida caindo". Maria Elisa diz acreditar que haja uma determinação da Secretaria do Meio Ambiente do Município (SMAM) para permitir que acabem os guapuruvus da cidade. "Cortaram um na frente da minha casa, e outro na esquina com a Benjamin Costant", elenca.
Os funcionários da empresa contratada para o "serviço" se limitaram a dizer que os galhos estavam caindo, portanto ofereciam perigo. "Certo, isso é normal, só que quando há perigo, a alternativa é uma poda ocasional. Postes caem, automóveis atropelam, out doors voam, telhas de zinco voam e nem por isso as pessoas pedem para eliminá-los", compara a ambientalista.
Biólogo autorizou cortePor sua vez a SMAM garante que o guapuruvu em questão oferecia sim risco aos próprios moradores da rua, e que sua remoção foi autorizada após vistoria e laudo técnico solicitado depois de uma ocorrência de queda parcial de sua copa sobre um veículo estacionado na rua. "Acrescento que foi feita uma compensação ambiental com o plantio de dois cedros na área interna do imóvel e entrega de 20 carobas na Zona Norte da SMAM", garante o biólogo da secretária, Eduardo Olabarriaga.
Mas para Maria Elisa, seria desejável que as compensações fossem na própria avenida Cristóvão Colombo, onde os moradores poderiam fiscalizar o plantio. "Há muitos espaços vagos para arborização, graças a má qualidade das mudas com que nos contemplam e também aos "tratos culturais" dados pelas roçadeiras do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU).
Denúncia ao MPPara Monika Naumann, que pôde observar os "restos mortais" do guapuruvu no dia seguinte ao corte, frutos verdes indicavam um processo reprodutivo normal. "Fiquei sem entender o motivo do corte", lamenta. Como engenheira florestal que é, diz que teria recomendado a retirada dos galhos secos, a impermeabilização da área do corte e uma boa adubação que poderia orgânica ou química. A engenheira florestal diz que enviou fotos da madeira do tronco e dos frutos em formação após a floração para a promotora Ana Marchezan, da Promotoria do Meio Ambiente do Ministério Público do Rio Grande do Sul.
Já o engenheiro civil Henrique Cezar Paz Wittler, traz a legislação para a discussão. Ele evoca o artigo 1º do Código Florestal Estadual, que diz:
As florestas nativas e demais formas de vegetação natural existente no território estadual, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são consideradas bens de interesse comum a todos os habitantes do Estado, que se exercendo os direitos com as limitações que a legislação em geral e, especialmente, esta Lei estabelecem.“Do ponto de vista da Engenharia Civil podemos afirmar que o guapuruvu é um importante aliado para amenizar a ação dos ventos e da própria chuva”, explica Wittler. Segundo o engenheiro, a árvore ainda fortalece o solo em sua volta e a copa serve como uma proteção contra as intempéries do clima.
(Por Carlos Matsubara, Ambiente JA, 03/12/2008)