Operadora diz que o oposto é a verdade: foram os desmoronamentos que danificaram a tubulação
Moradores do Morro do Baú, em Ilhota, culpam uma suposta explosão do gasoduto por deslizamentos ocorridos na região. Eles dizem ter visto um clarão na região por onde passa a tubulação, um local de difícil acesso na encosta do morro na região de Gaspar, entre os municípios de Luiz Alves e Blumenau. O Morro do Baú foi uma das áreas mais atingidas pelos deslizamentos dos últimos dias.
Uma das tubulações do Gasoduto Bolívia-Brasil que passa pela região realmente foi rompida na noite de 23 de novembro, o que causou o corte do fornecimento de gás para 60 indústrias e 77 postos de combustível catarinenses. Também foram afetados 99% dos usuários de gás natural do Rio Grande do Sul. A perspectiva é de que o restabelecimento da ligação ocorra em duas semanas.
A comunidade rural do município de Ilhota foi uma das mais atingidas, registrando até ontem 37 mortes. Pelo menos 90 pessoas do local foram resgatadas nos últimos dois dias, e as operações de resgate continuam na região.
Segundo o capitão Rodrigo Pierosan, do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, a explosão do gasoduto influenciou nos deslizamentos no Morro do Baú. Ele diz que não se sabe ao certo o que influenciou a tragédia: se a explosão em si ou se a instalação prévia. “Talvez a gente nunca saiba”, afirma.
Para o produtor rural Antônio Laurindo Richartz, o desmoronamento aconteceu pela combinação de água e explosão, o que teria enfraquecido a terra. Ele conta que nas enchentes de 1983 e 1984 não existiram deslizamentos como os verificados nesta semana. Na época, o gasoduto não estava instalado na região.
A costureira Josilene Sperber diz que viu um clarão à noite, que teria sido causado pela explosão do gasoduto. O serralheiro Clemente Valdemir Zabel também acha que foi a explosão do gasoduto que provocou o deslizamento do morro.
Chuvas
O governo de Santa Catarina afirma que técnicos da Petrobras foram até o estado para avaliar a situação. A secretaria de comunicação divulgou uma nota em que o tenente Carvalho, da Defesa Civil de São Paulo, explica que o que causou tantos desmoronamentos de terra na região foi o grande volume de chuvas. “Houve escorregamentos em diversas áreas, e o boato de que a explosão de um tubo de gás natural na região poderia provocá-los não procede. Um gasoduto não poderia gerar abalo suficiente para tantos deslizamentos, ainda mais em locais separados”, afirma o tenente na nota.
A Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), empresa subsidiária da Petrobras e responsável pelo trecho, também informou por meio de nota que não houve explosões na região. “Não há evidências de explosões em nenhuma parte da tubulação no trecho acidentado do Gasoduto Bolívia-Brasil em Gaspar, SC, no dia 23/11. Segundo análise preliminar dos técnicos, uma explosão provocaria fissuras ao longo da faixa de terra onde o gasoduto está enterrado. Após uma inspeção no local do acidente, as equipes encontraram a faixa de terra intacta”, diz a nota.
Ainda segundo a TBG, a hipótese até o momento é que o rompimento foi causado por um acidente natural decorrente das chuvas. “Uma pedra de aproximadamente 15 toneladas rolou, juntamente com sedimentos e vegetação, por cima do duto, causando o rompimento naquele ponto.”
Quanto ao clarão visto pelos moradores, a TBG se limitou a informar que o rompimento da tubulação causou um incêndio localizado, formado pelo escapamento de gás seguido de uma ignição.
(Gazeta do Povo, 02/12/2008)