O mundo deve evitar uma solução "barata e suja" para a economia que poderia minar a luta contra o aquecimento global, disse a principal autoridade da Organização das Nações Unidas para as mudanças climáticas.
Yvo de Boer disse, no domingo (30), que o mundo arrisca uma segunda crise financeira se os governos reagirem à desaceleração econômica construindo usinas de carvão baratas e altamente poluidoras, que podem ter que ser descartadas mais tarde quando os impactos ambientais aparecerem.
"O que mais me preocupa é que a crise financeira vai levar a uma segunda rodada de decisões de investimento infelizes", disse ele em entrevista coletiva, antes do encontro entre os dias 1o e 12 de dezembro envolvendo 186 nações que trabalham em um novo tratado climático.
"Espero que a segunda crise financeira não tenha origem em decisões energéticas equivocadas", disse ele. Investimentos mal planejados poderiam levar à necessidade de construir novas usinas solares ou eólicas em um prazo de dez a vinte anos.
As negociações em Poznan, na Polônia, são o ponto intermediário de um esforço de dois anos para a definição de um novo pacto climático até o final de 2009, em Copenhagen, que vai suceder o Protocolo de Kyoto, pelo qual 37 nações se comprometem a reduzir as emissões causadoras do efeito estufa até 2012.
De Boer disse que a desaceleração econômica é uma oportunidade para redesenhar a economia mundial. "Agora devemos nos concentrar nas oportunidades para o crescimento verde que pode colocar a economia global em um caminho estável e sustentável", disse ele.
Será "um desafio incrível" alcançar um consenso dentro de somente um ano em Copenhagen, e os negociadores tiveram que rever o que é alcançável, segundo ele. As conversações ainda foram complicadas pela mudança do presidente dos EUA, com a eleição de Barack Obama em novembro.
Ele disse preferir um tratado amplo e "ratificável" com um "processo subseqüente de maior detalhamento." De Boer elogiou o objetivo de Obama de reduzir as emissões de gás do efeito estufa dos EUA para os níveis dos anos 1990 até 2020, chamando-o de "ambicioso". As emissões dos EUA estão atualmente 14 por cento mais altas que nos anos 1990.
O presidente George W. Bush não ratificou Kyoto, dizendo que custaria muito caro e não continha metas para nações em desenvolvimento como China e Índia. Se Washington o tivesse ratificado, o país teria que reduzir seus níveis em sete por cento em relação aos níveis de 1990 até 2012.
"De certa maneira estou muito feliz com o que ele já se comprometeu a fazer," disse De Boer sobre os objetivos alegados por Obama.
(Estadão Online, AmbienteBrasil, 02/12/2008)