Parceria envolvendo o deputado federal Fernando Melo e o senador Tião Viana (ambos do PT do Acre) com o pesquisador Dione Sallas deverá resultar na implantação de uma unidade de produção de etanol extraído da mandioca no município de Jordão, um dos mais isolados do Acre e de menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O acordo foi firmado no último dia 26 e deverá resultar na apresentação de um projeto à Eletronorte, no valor de R$ 1,3 milhão, para que a empresa financie a implantação. O senador Tião Viana disse que o projeto é justo e viável e que ele se encarregará de defendê-lo junto à Eletronorte.
"O deputado Fernando Melo e sua equipe vêm trabalhando nisso faz algum tempo e eu me associei à idéia e vamos defendê-la", disse o senador, atual vice-presidente e candidato à presidência do Senado. "Com o apoio do senador, não temos dúvidas de que teremos plenas condições de iniciarmos esta experiência acreana na busca de soluções para o país na renovação de sua matriz energética", disse o deputado.
De acordo com Fernando Melo, Jordão foi escolhido como programa-piloto do projeto por ser um dos mais isolados do Estado e porque ali há um consumo médio mensal de pelo menos 12 mil litros de gasolina - utilizados principalmente em motores de embarcações no transporte fluvial, cujo preço por litro não sai por menos de R$ 5,50. "O isolamento causa esse tipo de absurdo. Nós queremos atuar de mão dupla: primeiro, resolver um grave problema do abastecimento e, em segundo plano, buscar uma alternativa de geração de emprego e renda para a população local, além de, como já dissemos, oferecermos ao governo federal uma alternativa na geração do biocombustível", acrescentou Fernando Melo.
Fernando Melo disse ainda que chegou aos estudos que vão resultar no projeto após contato com o pesquisador Dione Sallas, engenheiro agrônomo do Rio Grande do Sul que vive no Acre desde 1982 e que acaba de se doutorar, pela Unesp (Universidade do estado de São Paulo), na área de energia a partir de raízes tuberosas. Ele estuda a mandioca e suas propriedades desde seus primeiros contatos com a cultura indígena, no início dos anos 80, no interior do Acre. "Eu percebi que, a caiçuma, o liquido extraído da mandioca para os rituais indígenas, tinha um elevador teor alcoólico", revelou o pesquisador. "Ao me aprofundar na área, descubro que o Acre detém a melhor mandioca do país e tem este produto em abundância porque sua origem seria as terras onde atualmente se localizam o Estado, na faixa de fronteira entre a Bolívia e o Peru", disse o professor.
Traduzindo o que diz o pesquisador, significa que, em milhões de anos passados, uma planta que a botânica ainda não definiu o nome, deu origem à raiz que, anos mais tarde, a mitologia indígena chamaria de Mani, alusão à lenda que conta a história do contato dos índios com o produto, nos primórdios da ocupação amazônica. "A partir desses estudos, partimos para descobrir as potencialidades da mandioca. Além da farinha, mais de mil ingredientes podem ser obtidos da mandioca, inclusive o etanol", disse.
Além disso, garante Sallas, o etanol extraído da mandioca é melhor e mais abundante do que o extraído da cana de açúcar. Segundo ele, para cada tonelada de cana de açúcar, são produzidos 84 litros de etanol, enquanto que, para cada tonelada de mandioca, a produção é de180 litros de etanol. "Além desta vantagem quantitativa, no beneficiamento da mandioca, o resíduo não é tóxico e tem aproveitamento total na alimentação animal. Outro fator positivo é que a mandioca pode ser plantada em consórcio com outros produtos, como o milho, o arroz e o feijão - ao passo que a mandioca ocupa todo o espaço", disse Sallas.
Tião Viana e Fernando Melo disseram que a escolha de Jordão como base da experiência se relaciona também ao isolamento e a busca de uma alternativa econômica para o município. "Sempre defendi que municípios isolados como é o caso de Jordão precisam ter, sim, uma alternativa econômica. Este projeto une as duas coisas, a busca de energia sustentável com geração de emprego e renda", disse Tião Viana. "Depois de ouvir as explicações técnicas, estou convencido de que, do ponto de vista econômica, onde um litro de etanol da cana de açúcar custa mais de R$ 2,00, a alternativa da mandioca será sempre viável", disse Fernando Melo.
Dione Sallas, por sua vez, disse que, do ponto de vista mecânica, não haverá problema na adaptação de motores à gasolina para esta alternativa de combustível. "Para os motores a diesel, a alternativa do etanol não é possível. Mas, para os motores à gasolina, como é ocaso da energia utilizada em pequenas embarcações em regiões como a de Jordão, o etanol pode sim substituir a gasolina e nós vamos nos dedicar à busca desta alternativa", disse Dione Salles.
Para que o projeto seja iniciado, faltam apenas alguns ajustes para sua apresentação, o que deverá ocorrer dentro de alguns dias. "Assim que o projeto estiver pronto, eu e o deputado Fernando Melo estaremos juntos na sua defesa", disse Tião Viana.
(Página 20, Amazonia.org.br, 01/12/2008)