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terras indígenas conflito fundiário demarcação de terras
2008-12-02

Como resposta ao governador André Puccineli e aos fazendeiros do Estado de Mato Grosso do Sul, que garantem que “MS não é terra de índio”, os Terena que se manifestaram a semana passada na cidade de Miranda, a favor das demarcações de terra, responderam que os indígenas não precisam de caneta para afirmar que “MS é sim terra de índio”.

Aproximadamente 500 indígenas Terena se manifestaram no dia 28 de novembro na cidade de Miranda/MS para reivindicar a demarcação de 36.288 hectares da terra indígena Cachoeirinha e muitas outras que se encontram pendentes de demarcação e que fazem parte do território tradicional desse povo.

Miranda, como tantas outras no Mato Grosso do Sul e Brasil, não hesita em resgatar nomes e aspectos da cultura indígena para as suas ruas, instituições ou levantar monumentos artísticos relacionados a temas indígenas em qualquer canto. Porém, conta com uma população que, perante a reivindicação territorial dos indígenas, fica refém de uma série de atitudes e sentimentos não sempre favoráveis a esses povos.

No dia da mobilização Terena deu para perceber a mistura de gestos e comportamentos de seus moradores quando pelas ruas de Miranda os indígenas iam gritando “Terena unidos, jamais serão vencidos”. Enquanto os indígenas iam passando pelo asfalto com quase 40 graus de calor, desde longe, debaixo das sombras das lojas e de placas de propaganda do gado nelore dos fazendeiros, as cena era sempre igual: gente impávida, quase sem rosto, muda; pessoas com vergonha, caladas. Seres humanos indiferentes: Ninguém desaprovava nada, mas ninguém também apoiava nada. Gente sem postura e sem convicção. Os que gostavam da caminhada, algum trabalhador quiçá, não podia arriscar um cumprimento para não cair em contradição com o patrão.

O gesto de dignidade saiu das aldeias e estava passando sua mensagem de paz, terra e esperança pela cidade. Reclamando dos preconceitos eles distribuíam um panfleto que falava da necessidade e da justiça que está por detrás da reivindicação das demarcações de suas terras. A sensação era também de impotência perante uma realidade muito cruel: os indígenas pedindo pelas ruas para serem reconhecidos muito além das pinturas nos ônibus, dos museus, artesanatos, das músicas pantaneiras, dos nomes de praças, das capas de cadernos e nos livros escolares. Muito além de monumentos turísticos, os Terena pediram para serem reconhecidos como seres humanos, como um povo vivo, com uma cultura viva.

Foi neste contexto que se ouviu o grito que os não índios e especialmente os fazendeiros não queriam escutar. Mas a mensagem foi dirigida especialmente para o governador de Mato Grosso de Sul, André Pucinelli, com a seguinte frase: “Mato Groso do Sul é terra de índio”. Esta vinha como resposta ao governador do Estado que afirmou, neste mesmo ano, exatamente o contrário. Os manifestantes se reuniram na praça central da cidade e deixaram voar suas vozes buscando ouvidos para quem quisesse ouvir as mensagens.

“Terra não é capital”
A Terena Maria de Lurdes fez uma reflexão sobre a terra. Ela disse que leu muito a palavra terra nos jornais, mais sempre vinculada ao capital. Segundo ela o governo do estado vê na terra só “lucro, capital e dinheiro”. Ela manifestou que para os indígenas essa mesma terra significa território. “Nós queremos nosso território que significa autonomia, autodeterminação e liberdade e o governador e deputados de Mato Grosso do Sul têm que entender que os indígenas não precisam de terra para se enriquecer e sim para viver; queremos continuar vivos dentro de nossa terra e nossa cultura”, expressou Maria de Lurdes.

A liderança indígena Dario Muchacho denunciou o governador André Puccinelli por pretender confundir os indígenas chamando-os “entre quatro paredes” para discutir o tema da demarcação. E foi enfático ao responder a já conhecida expressão do governador que “MS jamais será terra de índio”, com o que defendeu e agradou os fazendeiros e o agronegócio. A liderança exclamou: “Onde está o povo de Miranda, parece que este povo está escondido, pois escutem todos; nos não estamos invadindo nada, simplesmente estamos querendo o que é nosso, porque está terra tem dono como disse o grande líder Sepé Tiaraju, esta terra é dos Kinikinau, dos Terena, dos Guato, dos Guaicuru, dos Kadiwéu que vivem neste município; esta terra, sim, é terra de índio”.

Os indígenas voltaram para suas aldeias e durante toda a caminhada do ato que aconteceu na praça central da cidade de Miranda, nenhum vereador eleito que bateram nas costas dos indígenas durante o processo eleitoral compareceu. Será por vergonha, por esquecimento ou porque devem favores aos fazendeiros?

(Cimi, 01/12/2008)


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