Sydney é uma cidade especial. Quase tão bela quanto o Rio de Janeiro e com muitas semelhanças, sua "baía de Guanabara" tem em seus portões o Opera House, cartão postal da cidade. É impossível esquecer sua imagem, com a ponte (nossa Rio-Niterói) atravessando suas águas, e o ferry (nossa barca) indo de lá pra cá. É o tipo da cidade que quanto mais se vê, mais se quer ver.
Indo ao encontro do que hoje é chamado "o pulmão de Sydney", a paisagem melhora ainda mais no Parque Nacional Royal. A 30 quilômetros da cidade esse quintal verde se impõe com uma natureza exuberante, praias para todos os gostos, cachoeiras, e lagoas.
O Royal foi o primeiro Parque Nacional criado na Australia, em 1879, e o segundo mundialmente, posterior apenas a Yellowstone, nos Estados Unidos. Com 16000 hectares, na época foi criado com o objetivo de "desafogar" a cidade de Sydney presenteando-a com uma área de lazer para seus moradores.
Seguindo o padrão ambiental da época, uma estrutura artificial foi criada copiando os subúrbios ingleses. A plantação de mais de 3700 espécies de plantas ornamentais se deu, assim como o corte de árvores nativas, e a introdução de animais exóticos.
Hoje a mentalidade na gestão do Parque Nacional Royal é diferente, e a preservação de sua diversidade biológica nativa e patrimônio histórico são prioridades, como forma de reverter os danos causados por décadas de má gestão. Para proteger as espécies naturais do Parque o Programa Environs Biodiversity Survey (análise ambiental da biodiversidade) foi criado, em 1996. Através dos dados obtidos com essa pesquisa, a monitoração dos elementos fundamentais da biodiversidade do Parque passou a ser possível, assim como a criação de estratégias de manejo para melhor controlar os impactos humanos.
Com um número de visitantes que supera 3 milhões de pessoas por ano, o Parque Nacional Royal é o mais visitado do estado australiano de New South Wales (Nova Gales do Sul). Sua proximidade de Sydney e dos subúrbios de Wollongong (onde fica uma grande Universidade) favorecem idas diárias às suas paragens.
O Royal
Formado por um imenso bloco de arenito o cenário do Royal oferece uma variedade panorâmica para os olhos famintos de quem vem da cidade. Cadeias de montanhas, praias, lagos e riachos, que muitas vezes formam cachoeiras, fazem parte da paisagem. Um quarto do Parque possui rochas com falhas de erosão causadas por muitos desses riachos que vão ao encontro do oceano. Em algumas falhas, o terreno subterrâneo, composto de argila, propiciou a formação de uma floresta tropical, que em conjunto com a umidade, solos ricos em nutrientes e devida proteção dos incêndios comuns à região, pode se concretizar nesse espaço, enriquecendo o ecossistema do Parque.
Outro aspecto impressionante do Parque Nacional Royal é sua abundância em flores silvestres o que o torna uma das áreas de maior diversidade de flores das regiões temperadas em todo o mundo. Com efeito, mais de 1000 espécies de plantas foram catalogadas, entre elas 26 espécies avaliadas como raras ou ameaçadas.
Apesar do foco na conservação das espécies desse Parque australiano, sua fauna foi sacrificada nos últimos anos. Em 1994 um desastroso incêndio queimou 90% do Parque Nacional Royal, com severas conseqüências para seus animais. Com a diminuição considerável da fauna local, a sobrevivência de algumas espécies ficou ameaçada. Os swamp wallabies (wallabie do brejo), que são como um pequeno canguru, por exemplo, foram reduzidos de 2500 para uma estimativa que oscila entre 50 e 80 animais. A variedade de espécies de pássaros também diminuiu de 240 espécies, para apenas 100 registradas depois do incêndio.
O Parque Nacional Royal também é um patrimônio histórico com valor significativo para a Austrália. Em mais de 200 locais de seu território foram encontradas evidências da presença da tribo aborígene Dharawal. Nas caminhadas no parque encontram-se muitas rochas de arenito com desenhos gravados. Abrigos em rochas e clareiras também foram encontrados e, a partir das escavações na área de Curracurrang, comprovações de sua ocupação foram datadas de 7500 anos atrás.
Passeando no parque
Para obter informações sobre os recursos que o parque oferece, assim como suas riquezas naturais, o bem equipado Centro de Visitantes ajuda tanto o turista quanto o australiano local. Ali são também distribuídos mapas e panfletos informativos, além da venda de livros e produtos ecologicamente corretos.
Com variadas opções de lazer e esportes, além das caminhadas, é possível alugar canoas, fazer mountain bike (em áreas determinadas) e surfar nas legendarias ondas australianas. Com suas praias de areias brancas recentemente foi criado no Parque o Surf Safety Centre (centro de surf seguro) na praia de Garie. As praias mais visitadas da costa são Burning Palms, Wattamolla e Bonnie Vale.
Com tamanha multidão de freqüentadores no Parque Nacional Royal o leitor pode até imaginar que seria difícil encontrar um lugar ao sol. Felizmente isso não acontece nas trilhas do Royal, especialmente para o caminhante eliminar. Tal desconforto é evitado, já que a maioria dos visitantes fica em torno dos locais de piqueniques, e não se afasta da área perto de seu carro.
Portanto para o caminhante o Royal não decepciona. São mais de 150 quilômetros de trilhas sinalizadas, com caminhadas de curtos períodos até trechos de 6 horas diárias. Também é possível passar a noite no Parque, acampando no caminho, para aproveitar ainda mais o contato com a natureza. Nesse caso é necessária a aquisição de uma licença para acampar, retirada no Centro de Visitantes.
Com muitas trilhas a escolher, uma das mais indicadas é a Coast Track (trilha costeira), com incríveis vistas sobre os penhascos. Mas para quem gosta de caminhadas de um dia é preciso cortar alguma parte dos seus 30 quilômetros de extensão.
No caso da autora e do jornalista Pedro da Cunha e Menezes, a trilha realizada foi composta por diversos trechos de visuais diferentes, passando também por lugares históricos, e pernoitando no caminho. O dia foi iniciado visitando a Karloo Pool (poço Karloo), onde o banho gelado é um dos melhores do mundo. Depois passamos pelas chamadas whaleback rocks (rochas dorsos de baleias), que são exatamente o que o nome sugere. Ao subirmos em suas costas nos surpreendemos ainda com desenhos aborígenes esculpidos como tatuagens. Nessa noite acampamos ao lado da cachoeira Uloola, e dormimos embalados com sua música. No dia seguinte, após quilômetros de um caminho estampado de flores amarelas, chegamos ao mar, e a paisagem modificou com as areias brancas da praia. Mas não sem antes dar um mergulho na lagoa de Wattamolla, nosso último em água doce.
Quando ir
A visitação ao parque pode ser feita o ano inteiro, especialmente com o clima favorável de Sydney, seco e ensolarado. Para os caminhantes à procura de percursos na costa e rotas com paradas para dormir são recomendadas as estações de outono e inverno, já que no verão a temperatura pode chegar até 40 graus. Nesta época as caminhadas aconselhadas giram em torno da floresta tropical, das praias e das muitas lagoas dentro do parque. Para os amantes das flores os melhores meses são entre agosto e novembro.
Sydney, o cartão postal da Australia, parece o Rio de Janeiro na sua beleza e acessibilidade à natureza. Mas quem conhece o Parque Nacional Royal passa a ver a cidade para além de suas semelhanças com a "cidade maravilhosa" brasileira, e conhece uma vegetação diferente, combinada com a história dos povos que habitavam o país antes dos anglos-saxões chegarem. Como diz o ditado popular, "figurinha repetida não completa o álbum", e a cidade australiana, assim como o Rio de Janeiro, é única.
(Por Ana Leonor, OEco, 01/12/2008)