Os órgãos de proteção aos animais estão alertas. Desde segunda-feira, 50 macacos morreram na cidade, a maioria de causa desconhecida. A suspeita de que as mortes podem ter sido ocasionadas por raiva foi descartada. No domingo, os resultados deram negativo também para febre amarela. Os especialistas suspeitavam de herpes, mas essa hipótese já tinha perdido força quando apenas quatro em 15 macacos examinados apresentaram a doença, quatro deles pertencentes ao mesmo bando.
O herpes é uma doença de pouca relevância para o ser humano, que, no entanto, pode transmiti-la aos animais, esses muito mais vulneráveis. A principal forma de contágio se dá quando pessoas alimentam os bichos.
Agrado perigoso
O técnico em vigilância ambiental da Divisão de Riscos Ambientais da Secretaria Estadual de Saúde, Mário Ribeiro, diz que é importante reforçar o apelo para que não se alimente os animais.
– Eu sei que, às vezes, as pessoas são bem intencionadas quando dão comida, mas isso pode prejudicar, passando inclusive herpes quando o alimento é compartilhado pela pessoa infectada e o animal – explicou Ribeiro, lembrando que os bichos acabam criando uma espécie de dependência em relação ao local onde é alimentado. – Quando recebe a comida, o animal se habitua a ficar por ali, esperando mais.
Outra preocupação é com o risco de que os animais passem doenças para o homem, já que muitos são hospedeiros naturais. Mosquitos semelhantes ao tristemente famoso Aedes aegypti, por exemplo, são vetores entre os animais e os seres humanos. Porém, não há motivo para pânico.
– Esse mosquito é comum no Rio de Janeiro, mas só nas matas. Ele é da mesma família que o mosquito da dengue, porém a única semelhança é seu raio de ação, que é muito pequeno. Como ele é silvestre, não há risco de chegar à cidade. – afirmou Ribeiro.
Nada desconhecido
O mistério sobre esta mortandade aparentemente repentina dos símios preocupa os técnicos, mas antes que o mais criativo cinéfilo comece a desconfiar de uma nova doença que possa exterminar a humanidade ou transformar todos em zumbis, Mário Ribeiro dá uma visão mais realista.
– Eu sei que existe uma preocupação de que surja uma doença nova, mas estamos monitorando esse risco. Acreditamos que não seja algo desconhecido – disse o técnico, que ainda não tem uma resposta definitiva sobre o problema.
Dano ambiental
Ribeiro não descarta a hipótese de mera coincidência temporal ns mortes, sustentada pelo médico veterinário Alessandro Romano, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Entretanto, não descarta a possibilidade de falta de alimento na floresta, o que suscita outro tema freqüente atualmente: preservação ambiental.
– Notamos que a maioria dos macacos mortos estava desidratada e fraca. Todo o processo de anormalidade numa área silvestre já é sinal de problema ambiental. Só a ocupação desses espaços é algo feito de maneira negativa. O homem está entrando no habitat dos macacos de maneira muito violenta. – ponderou Ribeiro, que alerta para a preservação do meio ambiente. – A floresta é uma área silvestre, mas está dentro da cidade.
(JB Online, 30/11/2008)