0s estudantes Diego Deferrari e Thomas Andres Troian, ambos de 17 anos, do 3 ano do Ensino Médio do Colégio Sinodal, de São Leopoldo, descobriram que ciência se faz com muito trabalho, pesquisa, erros, acertos, longas horas no laboratório e, às vezes, a ajuda do acaso. A idéia do projeto da dupla, iniciado no segundo semestre do ano passado nas aulas de química da professora Vera Lucia Dallacorte, era provar que é possível, e talvez comercialmente viável, transformar óleo de cozinha usado em biodiesel para motores automotivos.
Conseguiram e foram além. Descobriram, acidentalmente, um jeito eficiente de retirar do biodiesel os resíduos das substâncias utilizadas na sua produção.
O trabalho Análise da Possibilidade de Produção de um Éster Metílico Através do Óleo de Cozinha Reutilizado foi um dos três selecionados pelo concurso cultural Laboratório Globaltech, de ZH, e será publicado nesta edição.
“Comecei o projeto”, escreveu Thomas no dia 26 de julho de 2007 no grosso caderno com a inscrição biodiesel na capa preta em que ele e Diego anotariam, nos meses seguintes, todos os passos do trabalho. Um trabalho que não valia nota, não fora pedido pela professora Vera nem nada. A motivação dos estudantes naquele momento era científica e ecológica.
Estima-se que, anualmente, 30 mil toneladas de óleo de cozinha sobram nas frigideiras das cozinhas brasileiras. A maior parte dessa fritura é simplesmente descartada no ambiente, com sérias conseqüências.
– O cálculo é que um litro de óleo de cozinha jogado na natureza polui cerca de 1 milhão de litros de água – diz Thomas.
Uma parcela do óleo de cozinha usado é transformada em glicerina (um produto de valor comercial, que serve de matéria-prima para a fabricação de coisas como sabão e sabonete). Mas esse reaproveitamento não resolve o problema da poluição, já que esses derivados não são biodegradáveis. Uma destinação mais inteligente seria transformá-lo em biodiesel, o combustível feito a partir de óleos vegetais.
Segundo os estudantes, o biodiesel reduz em 78%, em relação ao diesel comum, as emissões de dióxido de carbono (CO2), o principal responsável pelo efeito estufa. Também é livre de elementos como enxofre e aromáticos como o benzeno, igualmente poluidores.
O biodiesel é obtido a partir de plantas como mamona, dendê, milho, girassol, amendoim e soja, que também são usadas como óleos comestíveis. Mesmo depois de usado para fritar batatas, o óleo vegetal mantém o seu poder energético e pode movimentar motores a diesel.
A produção de biodiesel no país deve crescer nos próximos anos, para atender à legislação brasileira. Atualmente, a lei determina a adição de 2% de biodiesel (conhecido como B2) ao diesel comum, derivado do petróleo – índice que subirá para 3% em 2009 e deverá chegar a 8% em 2013. Isso pode acirrar uma competição por esses produtos.
– O reaproveitamento do óleo de cozinha usado evitaria que essas plantas deixassem de ser usadas como alimento – diz Thomas.
E há ainda o benefício do baixo custo, já que o óleo de fritura usado pode ser conseguido de graça em lanchonetes, restaurantes e residências.
(ZH, 01/12/2008)