A conferência da Organização das Nações Unidas, ONU, para o aquecimento global, uma reunião fundamental para alcançar um texto que substitua o Protocolo de Kioto, começa nesta semana na Polônia, um dos países mais dependentes de carbono e um das que mais emitem CO2 na atmosfera.
"Estamos otimistas e esperamos que, graças a esta conferência, a política energética de nosso país mude e se reduza o uso do carbono. Esta é a responsabilidade do governo polonês com organizador da assembléia", disse Magdalena Zowsik, do Greenpeace na Polônia.
Não é nenhum exagero falar em dependência de carbono no caso da Polônia, já que 93% da energia do país é obtida deste material, o combustível mais contaminante e maior emissor de gases de efeito estufa, associado com o desenvolvimento industrial do século XX, e engrenagem fundamental da economia polonesa.
Este "amor" desenfreado pelo carbono, uma paixão que é compartilhada com a Austrália, China e África do Sul, coloca o país centro-europeu entre os vinte Estados que mais produzem dióxido de carbono, apesar de contar com uma população que não chega a 40 milhões de habitantes e uma indústria que não tão desenvolvida.
"Nossos governantes nunca se preocuparam com o meio ambiente", lamenta Sowski, que lembra que o Executivo polonês autorizou neste ano a abertura de uma nova mina de carbono a céu aberto, nos limites do parque natural do Milênio, no oeste do país, o que, para os ecologistas, trará conseqüências funestas para a flora, fauna e aos habitantes da região.
Além disso, a Polônia lidera um grupo de países do Leste da Europa que pedem modificações no acordo europeu de luta contra o aquecimento global, ao considerar que este pode frear seu crescimento econômico em um momento de crise financeira mundial, e aumentar sua dependência energética com a vizinha, Rússia, da qual já chega a imensa maioria de gás e de petróleo consumido.
O polêmico plano europeu pretende cortar as emissões de CO2 até reduzir os níveis a equivalentes nos anos 90, o que afetará especialmente os setores energéticos fortemente dependentes do carbono. Para Grzegorz Wisniewski, diretor do Instituto de Energias Renováveis, IEO, os políticos hão de se conscientizar de que "produzir eletricidade empenhando energias renováveis será menos custoso do que através do carbono e, além disso, permitirá que a Polônia se beneficie da venda de cotas de CO2 não utilizadas, energia verde, biocombustível e tecnologia".
Pelo contrário, outros peritos sustentam que o país não está preparado para o salto das energias renováveis, uma vez que, por enquanto, seria impossível satisfazer a demanda que gera o seu rápido crescimento econômico. A realidade é que a Polônia conta com 100 vezes menos geradores eólicos que a vizinha Alemanha, apesar de ter condições geográficas similares, e o governo estuda desenvolver uma central nuclear em conjunto com a Lituânia, dentro de uma estratégia de longo prazo.
Desta forma, os delegados de mais de 190 países que estarão presentes no evento terão que trabalhar para superar a dependência do CO2 das centrais de carbono polonesas e, o mais importante, superar a temível crise financeira, que ameaça cortar a distribuição de recursos para lutar contra o aquecimento global. O secretário geral da Convenção da ONU pelo Aquecimento Global, Yvo de Boes, assegura que a crise econômica é uma oportunidade para que os países se esforcem mais na luta contra as mudanças climáticas.
(Estadão, Efe, 01/12/2008)