A ONU apontou, recentemente, que as emissões de gases do efeito estufa cresceram entre 2006 e 2007. Para procurar soluções com relação ao aquecimento global, inúmeras negociações internacionais são realizadas constantemente, visando elaborar um acordo entre os países sobre mudanças climáticas.
Isso traz, mais uma vez, a atenção para um dos biomas mais importantes do mundo: a Amazônia. Está clara a importância da floresta para as questões relacionadas ao aquecimento global e também para as principais cadeias produtivas de diversos segmentos no país. Por isso, é essencial olharmos com cuidado para essa região, com o intuito de garantir a sustentabilidade.
Pensando nisso, foi criado, há um ano, o Fórum Amazônia Sustentável, um grupo de organizações que representam empresas privadas e segmentos da sociedade civil, com o objetivo de mobilizar lideranças de diversos segmentos com atuação na Amazônia.
A última discussão aconteceu em Manaus, entre os dias 25 e 27 de novembro. Após um dia de debates, os integrantes do Fórum levantaram a idéia de preparar um documento, junto com os governos na Amazônia, com uma proposta para a Convenção do Clima. Sendo assim, serão definidos mecanismos de redução do desmatamento e valorização da floresta em pé, no intuito de construir uma visão amazônica sobre um novo regime de carbono, que vai substituir o Protocolo de Kioto.
Além disso, discussões sobre mecanismos de financiamento estão em avanço. O BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), BASA (Banco da Amazônia) e IFC (Corporação Financeira Internacional) estão mais rigorosos com financiamentos, garantindo uma diminuição de atividades ilegais de desmatamento. Isso tem trazido resultados concretos neste ano. Em setembro de 2008, por exemplo, houve uma queda de 69% da área desmatada, em comparação com o mesmo mês de 2007.
Outra novidade interessante é a estratégia anunciada pela Vale, que pretende trabalhar em colaboração com o governo do estado do Pará para estimular atividades econômicas ligadas ao reflorestamento. Dessa forma, a pecuária poderia perder espaço econômico na região, fortalecendo as atividades que favorecem a floresta. A idéia é que é possível criar empregos e ter mais resultados econômicos positivos para a região se investirmos mais em reflorestamento do que em pecuária.
O importante é perceber que apenas uma visão sistêmica de soluções para os problemas sócio-ambientais amazônicos seria capaz de garantir uma aceleração do desenvolvimento socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável. O mapeamento das áreas degradadas e uma política eficiente, que facilite sua recuperação, também é fundamental. Uma das maneiras de se fazer isso é rastrear os processos produtivos, fiscalizando os atores do desmatamento para trazer para a legalidade aqueles que ainda atuam na ilegalidade.
A descentralização das matrizes energéticas também é necessária para que se promova o desenvolvimento das regiões com impactos agregados muito menores. Temos que produzir de outra forma, consumir de outra forma e dividir de outra forma. Alagar uma vasta área da Amazônia, desviando recursos hídricos e causando um crime ambiental na região, para gerar energia para as indústrias do Sul do país, é algo que certamente tem de ser discutido.
O diálogo diverso e coletivo com as lideranças multissetoriais já conta com diversas iniciativas que impactam positivamente a discussão da produção de soja, pecuária e do desmatamento zero. Está claro que podemos fazer a diferença no processo de conexão entre o mercado, o consumo e a cadeia produtiva hoje estalada na região.
Uma das ferramentas propostas pelo meio acadêmico, por exemplo, é criar núcleos de problemas-chaves, sobre os quais criaríamos excelência, trabalhando pelo aprofundamento do conhecimento das questões sociais e econômicas da região.
É possível encontrar formas de manter negócios em prol do desenvolvimento econômico da região, sem comprometer os aspectos ambientais e sociais. Aliás, cada vez mais, está claro que se não fizermos isso, o desenvolvimento econômico simplesmente não será possível.
(Por Ricardo Young, Carta Capital, 28/11/2008)