Último aterro da região, em Ubatuba, foi fechado pela Cetesb há uma semana; quatro cidades tentam criar local único
Caminhões percorrem trajeto de até 210 km para transportar resíduos; custo com serviço em Ubatuba pode ter aumento de 427%
O sistema de depósito de lixo no litoral norte de São Paulo entrou em colapso. Há uma semana, a Cetesb (agência ambiental paulista) interditou o último local usado para despejar lixo, no Ipiranguinha, em Ubatuba, pondo fim a um processo que vem se arrastando desde 2004, quando foi fechado o depósito de Ilhabela.
Assim, nenhuma das quatro cidades -São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Ubatuba- tem local para depositar o lixo. Juntas, elas geram mensalmente 5.000 t de resíduos, uma média 166 t ao dia, volume chega a triplicar no verão.
Sem alternativa, três das cidades recorreram a aterros sanitários em Tremembé, no Vale do Paraíba, e Santa Isabel, cidade da Grande São Paulo. Ubatuba também será obrigada a seguir o mesmo caminho.
O resultado é que o lixo coletado na praia de Boracéia, por exemplo, na divisa entre São Sebastião e Bertioga, passa pelas mãos dos garis, é colocado em um caminhão de 7 t e transportado por cerca de 60 km até o centro da cidade, onde há uma estação de transbordo.
Dessa estação, o lixo é transferido para uma carreta de 30 t, toma a estrada e vai até Tremembé -um percurso total de 210 km, de Boracéia, passando pela estreita Rio-Santos e transpondo a serra do Mar e o Vale do Paraíba.
Em Ilhabela, a logística é ainda mais complicada. O lixo é coletado e colocado em caminhões, que têm de esperar a maré favorável para embarcar na balsa da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.).
Além de congestionar ainda mais a já complicada Rio-Santos, em que rodar alguns quilômetros pode levar horas durante a temporada -é comum ver na rodovia grandes filas atrás de caminhões-, a "exportação" do lixo para Tremembé encarece ainda mais o sistema.
Em Caraguatatuba, onde o depósito da fazenda Serramar foi fechado em 22 de fevereiro de 2007, a prefeitura gasta R$ 120 por tonelada somente para transportar e depositar os resíduos em Santa Isabel, além dos R$ 80 da coleta.
O secretário de Obras de Ubatuba, João Paulo Rolim, disse que já orçou o custo para encaminhar o lixo para a mesma cidade. Segundo ele, o custo por tonelada vai saltar de R$ 37 para até R$ 195.
Rolim vem tentando na Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) mais prazo para continuar operando o depósito, mas não há mais espaço para lixo lá. "Não dura até o Carnaval", diz.
Segundo Rolim, com a exportação dos dejetos, o custo anual da operação deve chegar a R$ 5 milhões. Para efeito de comparação, o município tem no Orçamento R$ 1,2 milhão para asfaltar ruas e avenidas.
O secretário de Estado do Meio Ambiente, Xico Graziano, afirma que não vai permitir que sejam criados novos aterros sem todas as licenças ambientais. "Os locais que foram fechados não vão abrir mais. E vamos ser rigorosos com os projetos [de aterros], quaisquer que sejam", afirma.
Graziano afirma que o Estado não deve interferir em busca de soluções e que uma alternativa deve ser encontrada pelos próprios prefeitos.
O advogado Eduardo Hypolito do Rego, que integra o Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente), afirma que o colapso é resultado de anos de descaso com a questão.
"É uma morte anunciada. Todos sabiam que os antigos depósitos tinham data para acabar", diz o ambientalista.
As prefeituras das quatro cidades já chegaram a discutir a formação de um consórcio para a construção de um aterro sanitário em Caraguatatuba, considerada única cidade com local mais apropriado para isso.
O projeto não foi, porém, à frente. Os prefeitos dessas cidades devem voltar a debater o assunto a partir de janeiro, já que haverá troca de comando em três cidades. Somente o democrata Eduardo Cesar, de Ubatuba, conseguiu reeleger-se.
(Por José Ernesto Credencio, Folha, 30/11/2008)