Depois da enxurrada que afogou Santa Catarina, cidades como Itajaí e Camboriú vêem agora os entulhos amontoados nas ruas, e as prefeituras não sabem o que fazer com tudo aquilo --nem para onde levar. Mobiliário, colchões, roupas e utensílios domésticos cobertos de lama se acumulam em frente a muitas casas dos bairros mais atingidos pelas águas. Daquilo nada mais pode ser aproveitado.
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As cidades são um lixão a céu aberto. Em oficinas mecânicas e borracharias, o que se vê são filas de carros enlameados com donos tentando recuperar a carcaça e o motor. Segundo a Prefeitura de Itajaí, 30 caminhões já recolhem o lixo da cidade. A previsão é a de que mais 70 reforcem a coleta até a próxima semana.
A prioridade são escolas, que serviram de abrigos, e hospitais. Num condomínio de classe média baixa da Baixada, o bairro mais atingido de Camboriú, até um piano, ou o que restou dele, foi jogado fora. Foram necessários quatro homens para carregar a cauda.
No varal de uma casa que teve o muro derrubado pela força das águas, bonecas foram colocadas para secar como lençóis. Ali a água subiu tanto que cobriu as janelas. A moradora e os três filhos, dois deles crianças, foram resgatados pelo telhado por bombeiros no domingo.
"Em cinco minutos a água chegou ao teto. Subimos de escada até o forro e ficamos esperando o salvamento. Levou meia hora para sairmos dali. As paredes ainda têm as marcas das batidas do barco", mostra Janete Buse, 43.
De lá, foi levada para a prefeitura. Recebeu roupas secas, café e bolacha e seguiu para um abrigo, onde ficou até a quarta-feira passada. A vizinha Daniele Chiesa, 32, diz já ter contratado um pedreiro para fazer pequenas reformas na casa. "Os móveis vão ser todos de tijolo: cama, sofá, prateleiras. Não quero mais nada de madeira", afirma.
Água da chuva
Choveu forte na madrugada de sábado (29), em Itajaí. Curiosamente, moradores ficaram felizes porque, com a falta de água encanada, usaram a água da chuva para limpar suas casas ainda cobertas de lama.
Os abrigos que hospedavam os desalojados pela enchente começaram a ser desocupados ontem pela manhã para virar depósitos das doações de roupas e colchões que chegavam de todos os cantos do país.
(Por Vinícius Queiroz Galvão, Folha, 30/11/2008)