Fornecer informações precisas e de qualidade para incentivar os investimentos em energia eólica e solar em países em desenvolvimento é o objetivo do projeto Swera, que foi transformado em um programa permanente da ONU.
Informação – esse é um dos recursos mais escassos para viabilizar a realização de grandes investimentos em energia solar e eólica nos países em desenvolvimento. Sem dados precisos e de qualidade, muitos investidores consideram o setor uma área de risco e voltam seus recursos para projetos de energias tradicionais. O Brasil, por exemplo, possui abundância de sol e vento, porém, a falta de informações científicas disponíveis e de fácil acesso é considerada uma das maiores barreiras para o crescimento dessas tecnologias no território nacional.
Para lidar com esse problema, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep), em parceria com 25 entidades em todo o mundo, realizou um projeto de coleta, seleção, padronização e divulgação de dados sobre os recursos solares e eólicos no Brasil e em outros 12 países da América Central, Ásia e África. Finalizada com sucesso em 2006, a iniciativa foi expandida para outros países por meio de um programa permanente das Nações Unidas.
Pelo Projeto Swera, foi possível mapear as fontes de energia renovável e desenvolver um banco de dados acessível a investidores de todo o mundo. O pesquisador Ênio Bueno Pereira, que participou da etapa brasileira, diz que o trabalho foi minucioso porque exigia a compilação e organização de informações de documentos que estavam dissipados em diferentes lugares do país, como em teses de doutorados guardadas em bibliotecas das universidades.
O projeto também atuou no desenvolvimento, na aplicação e na adaptação de modelos existentes para o levantamento dos recursos. Pereira explica que muitos conhecimentos aplicado na área de meteorologia foram adaptados para o setor de energia. Um dos resultados do trabalho foi a publicação de um atlas brasileiro de radiação solar, que demonstra em detalhe o potencial do país para esse tipo de energia.
“O Brasil possui uma maior faixa solar entre o Nordeste e o Sudeste, com destaque para a região Noroeste da Bahia, onde encontramos o maior potencial para energia fotovoltaica”. As regiões litorâneas e a Amazônia apresentam menor potencial devido a freqüente presença de nuvens, que limitam a radiação solar, justifica o pesquisador.
A importância do estudo é destacada quando se analisa o potencial solar brasileiro em termos relativos. “Se pegarmos uma área do tamanho da usina hidrelétrica de Balbina, na Amazônia, e preenchermos com painéis solares, teremos energia para suprir toda a demanda energética atual do Brasil e ainda sobrará um excedente de 30%”, afirma Pereira.
Para validar as informações do projeto, foram realizadas coletas de dados de superfície. No entanto, Pereira conta que seria inviável instalar equipamentos de medição a cada 5 ou 10 quilômetros em todo o país; por isso, a organização dos dados disponíveis foi essencial. O pesquisador ressalta que a carência de dados de superfície já justificaria a realização de um novo projeto com o objetivo de validar os modelos de medição.
Ventos
Na área eólica, os cientistas utilizaram um modelo do CPTEC/INPE para mapear as regiões Norte e Sul do Brasil, onde se encontram as principais “jazidas de vento”, segundo Pereira.
Ele explica que uma dificuldade para se definir o potencial eólico de determinada região são as discrepâncias observadas entre os resultados obtidos pelos modelos aplicados. “Isso é muito comum de ocorrer, por isso o ideal para se obter menos incerteza e alcançar um maior grau de confiabilidade é usar um conjunto de modelos”.
Pereira explica que, para validar dados de superfície, a equipe utilizou informações de dois modelos, com resultados completamente diferentes. Mas a conclusão foi de que os dois modelos estavam corretos, sendo que cada um apresentava acertos e erros em locais distintos.
Apesar de alguns modelos serem incompatíveis, todos resultam em uma mesma conclusão: o Brasil possui grande potencial eólico inexplorado. Pereira afirma que, em regiões com rajadas de velocidade acima de 7 metros/segundo e com torres instaladas a 50 metros de altura, o aproveitamento da força dos ventos pode suprir um terço da demanda energética brasileira.
Os bons resultados do projeto Swera fez com que a ONU expandisse as ações para outros países em desenvolvimento; mas Pereira acredita que as iniciativas também podem ser incrementadas nos países que participaram do projeto-piloto, com o desenvolvimento de novos modelos, que sejam capazes, por exemplo, de determinar os impactos das mudanças climáticas globais nesses recursos. “Hoje temos previsões para os próximos 20, 30 ou 40 anos. Depois desse período é possível que haja mudanças no meio ambiente e, consequentemente no potencial solar e eólico, e será importante se conseguirmos prever isso”.
(
Carbono Brasil, 27/11/2008)