Empreendedores dizem que as usinas hidrelétricas trazem desenvolvimento, mas os ambientalistas reclamamAs empresas produtoras de energia elétrica atrelam a instalação das usinas ao desenvolvimento. Segundo elas, os empreendimentos geram empregos durante a construção e depois, na operação das centrais. Além disso, elas pagam aos municípios atingidos uma compensação financeira. Estado e União também recebem um porcentual. O fato é que percorrendo as cidades atingidas pelas usinas instaladas no Rio Iguaçu nem sempre é essa a impressão que se tem. Em muitas o cenário é desolador. Comparando os valores recebidos e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios (veja no quadro) é impossível afirmar que o benefício financeiro traz mais riqueza. Nem o contrário.
Robson Luiz Schiefler e Silva, assessor da Diretoria de Geração e Transmissão de Energia e de Telecomunicações da Companhia Paranaense de Energia (Copel), que opera três usinas no Rio Iguaçu, garante que as unidades são vetores de desenvolvimento, especialmente devido à compensação financeira. As concessionárias pagam o equivalente a 6,75% do valor da energia produzida. Desse porcentual, 6% são distribuídos aos municípios, estados e União: 45% para cada um dos dois primeiros e 10% para o governo federal. Os outros 0,75% são destinados ao Ministério do Meio Ambiente. Os valores são arrecadados e distribuídos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Em todo o país, 22 estados e 634 municípios recebem a compensação financeira pela instalação das usinas hidrelétricas. No ano passado, os 27 municípios do Paraná e um de Santa Catarina que recebem recursos pelo funcionamento das cinco centrais no Rio Iguaçu ficaram com cerca de R$ 40,6 milhões.
Denise Basgal, professora no MBA Internacional em Gerenciamento de Projetos do Instituto Superior de Administração e Economia (Isae) da Fundação Getúlio Vargas, diz que “esses empreendimentos tendem a provocar uma elevação do IDH da região onde estão localizados, principalmente quando seu reservatório de água está situado em regiões de pobreza”. Segundo ela, “isso se deve ao fato de que o reservatório de acumulação de água de uma usina hidrelétrica cumpre com o papel secundário de regularização das vazões do rio, ou seja, mantém uma vazão perene no período de seca e amortece as cheias nos períodos de inundação”.
Os empreendedores também falam do benefício da geração de emprego. Gilmar Schwanka, assessor da Diretoria de Geração e Transmissão de Energia e de Telecomunicações da Copel, comenta que na construção de uma usina trabalham cerca de 2 mil a 3 mil operários, inclusive moradores da região. Mas o biólogo Tom Grando, consultor da Expedição ao Rio Iguaçu, diz que sobram poucos postos de trabalho para os operários locais porque as usinas são construídas pelos barrageiros, operários que viajam o país só para executar esse tipo de obra.
Depois de prontas, critica Grando, as usinas empregam somente oito a dez pessoas da região, já que a operação é feita em Curitiba. Robson Luiz Schiefler e Silva, da Copel, rebate e informa que “trabalham 300 copelianos nas três usinas, além do pessoal terceirizado”.
Prós e contrasAlém da discussão sobre desenvolvimento e meio ambiente, a questão das usinas envolve a discussão a respeito dos impactos sociais. A formação das barragens implica o deslocamento das famílias que vivem nas regiões atingidas.
Francisco Barcelo, um dos operadores da balsa que faz a travessia entre os municípios de Três Barras do Paraná e Nova Prata do Iguaçu, pode observar todos os dias, enquanto trabalha, o local onde morava. Hoje, a área está cem metros abaixo da água. A família de Barcelo foi uma das atingidas pela barragem da Usina de Salto Caxias, construída em Capitão Leônidas Marques. A balsa faz a travessia sobre o Rio Jaracatiá, um afluente da margem esquerda do Rio Iguaçu.
Para Barcelo, a usina hidrelétrica trouxe benefícios, mas também prejuízos. Ele, a mulher e os três filhos receberam uma nova área para morar. “A terra lá é melhor”, diz. Na sua rotina de produtor rural, ele cultiva alguns produtos para consumo próprio. Mas por outro lado, o movimento na balsa caiu pela metade depois da construção de Salto Caxias. “Antes a gente fazia 30 viagens por dia e hoje, 15.”
Cenário
Os reservatórios das usinas têm até 80 km de extensão. No oitavo dia da Expedição ao Rio Iguaçu, navegamos por aproximadamente uma hora no reservatório da Usina de Salto Caxias. Em alguns trechos aparecem os galhos secos dos topos das árvores que foram submersas. Dá até para ver partes das árvores que estão no fundo.
O biólogo Tom Grando explica que um reservatório enche num prazo que varia de três a quatro meses. Segundo ele, não há risco de a água ultrapassar o espaço previsto para ela. “O levantamento topográfico define isso e as empresas são muito eficientes. Sabem exatamente como controlar a formação de um reservatório.”
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Gazeta do Povo, 28/11/2008)