Tipo de trabalho: Tese de Doutorado
Instituição: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP)
Ano: 2008
Autora: Simone Rezende da Silva
Contato: srezende@usp.br
Resumo:
A Mata Atlântica é uma das florestas tropicais mais importantes do mundo, rica em biodiversidade e em sociodiversidade. Contudo, é também uma das mais ameaçadas, tendo sido consumida no processo de conquista e desenvolvimento do Brasil, atualmente restam apenas 7,3% de sua área original, distribuídos em alguns contínuos e fragmentos ao longo da costa atlântica. Durante esse processo de consumo das florestas atlânticas, muitas foram as populações tradicionais, entre as quais quilombolas, que buscaram as fronteiras florestais e desenvolveram aí modos de vida mais integrados aos sistemas naturais e estabeleceram segmentos da sociedade culturalmente diferenciados. Esta pesquisa procurou ressaltar a importância destes remanescentes florestais atlânticos, bem como os processos que levaram à sua quase total destruição, além ainda de analisar o papel das populações tradicionais, especificamente das populações quilombolas para a manutenção desses remanescentes, pois se verifica que boa parte dos contínuos florestais ou dos pequenos fragmentos que ainda compõem a Mata Atlântica são sobrepostos aos territórios de muitas populações rurais negras, quilombolas. Afirma-se nesta pesquisa que esta sobreposição não se trata de mero acaso, mas sim o resultado de um processo histórico que marginalizou populações negras e fez muitas dessas buscarem abrigo e se fixarem em zonas afastadas dos incipientes centros urbanos ou das grandes monoculturas que substituíram as florestas nativas. E que são estas populações, em grande parte, responsáveis pela existência e manutenção da Mata Atlântica restante no país. A pesquisa procedeu ao estudo de três comunidades quilombolas em distintas regiões de nosso litoral (Mandira em São Paulo, São Jorge no Espírito Santo e Povoação de São Lourenço em Pernambuco), que embora diferenciadas em seus contextos ecológicos, históricos e culturais, tinham em comum os conflitos territoriais, ou seja, a luta para manutenção ou reconquista de seus territórios no domínio da Mata Atlântica, o que nos permitiu uma amostragem diversificada das paisagens atlânticas e também de medidas conciliatórias entre a permanência das populações em seus territórios e a conservação da natureza.