Os ministros do meio-ambiente que se preparam para o debate sobre o aquecimento global que acontecerá na semana que vem em Poznan, Polônia, soam pessimistas. De Paris a Beijing, o refrão é o mesmo: este não é um momento de planos ambiciosos em relação ao aquecimento global. Nós não podemos lidar com uma crise financeira e reduzir as emissões ao mesmo tempo.
Uma mensagem muito diferente é passada por este país. O presidente eleito Barack Obama argumenta que não há momento melhor para investirmos amplamente em tecnologias limpas. Tais investimentos, segundo ele, confrontariam a ameaça de um aquecimento nunca experienciado, reduziriam a dependência no petróleo estrangeiro e ajudariam a revitalizar a economia americana.
Chame do que quiser: uma política ambiental envolta em uma política energética envolta em uma política econômica. Seja qual for a nomenclatura, essa é uma mudança radical do derrotismo e negação que marcaram os oito anos do presidente Bush no governo. Se Obama seguir adiante com seus compromissos, este país pelo menos será o líder mundial necessário para lidarmos com os perigos do aquecimento global.
Em seus primeiros seis meses no cargo, Bush descumpriu a promessa de campanha de regulamentar as emissões de dióxido de carbono e abandonou o Protocolo de Kyoto, um primeiro e modesto esforço de controlar as emissões de gases causadores do efeito estufa. Ainda a dois meses da Casa Branca, Obama reafirmou suas promessas em relação ao clima de forma convincente.
Uma delas é impor (com a ajuda do Congresso) a limitação das emissões reduzindo assim a produção americana destes gases em até 80% até meados do século. De acordo com cientistas da área, isso é o mínimo necessário para estabilizar a concentração atmosférica de dióxido de carbono e evitar as piores consequências do aquecimento global. A segunda promessa de Obama é investir US$15 bilhões por ano para construir uma economia limpa que diminua o uso de combustíveis e crie milhares de empregos ecologicamente corretos. Isso inclui investimentos em energia solar, eólica, de carvão limpo (usinas que armazenam suas emissões de carbono) e, como parte do plano de resgate, ajudar Detroit a remodelar suas fábricas para que construam uma nova geração de veículos mais eficientes.
Obama se cercou de pessoas que pensam da mesma forma, que passaram anos imersos nas complexidades da política sobre energia.
Seu chefe de transição, John Podesta, foi um dos primeiros defensores da ajuda às automobilísticas e da pesquisa por alternativas à gasolina com pouco carbono. Peter Orszag, sua escolha para o Gabinete de Orçamento e Gerenciamento (onde as iniciativas ambientais iam apenas para morrer, na gestão Bush) é especialista em programas que comerciam créditos para limitar as emissões de gases causadores do efeito estufa.
O sucesso não é garantido. No ano passado, um projeto de lei climático muito mais modesto não conseguiu convencer a maioria do Senado. Pelo menos na superfície, parece contra-produtivo impor novas regras (e, a curto prazo, custos mais altos sobre a energia) a uma economia em dificuldades. Obama precisará usar todo seu poder de oratória para provar o contrário.
O cenário histórico de Richard Nixon em diante está cheio de promessas ousadas e não cumpridas de tirar o país dos combustíveis fósseis, especialmente do petróleo importado. Agora o diferente é a necessidade de lidarmos com a ameaça real do aquecimento global. O que também é diferente é que o país elegeu um presidente que acredita que cumprir o desafio da mudança climática é essencial para a saúde do planeta e o futuro da economia americana.
(NYT, Ultimo Segundo, 27/11/2008)