Na última segunda (24), semanas após o presidente do Ibama, Roberto Messias Franco, ter admitido que concedeu a licença de instalação da Usina Hidrelética de Santo Antônio (RO) contrariando parecer técnico de sua própria equipe, que dizia não ao licenciamento, a reportagem de O Eco fez uma visita à Porto Velho e descobriu que, apesar do entrave, o processo segue em “total normalidade”.
Para os recém-chegados à cidade, é quase impossível conseguir um quarto de hotel. Estão tomados por funcionários da Odebrecht que vieram trabalhar nas obras de Santo Antônio. No local em que a usina será instalada, a dez quilômetros da cidade, o som das águas sobre as pedras foi trocado pelo ronco do motor de caminhões e tratores, que já começam a erguer a eclusa.
A passagem da água entre a margem direita do rio e a antiga Ilha do Presídio, com face voltada para a cidade, já foi interrompida e um pequeno lago se formou diante da parede de cimento e terra que dará origem à barragem. Com isso, a vazante do rio se dá toda pela margem esquerda, o que fez com que, mesmo em época de seca, o movimento de barcos fosse dificultado pela força das águas que rolam sobre as pedras.
No canto da margem direita do Madeira, maior afluente do Rio Amazonas, estão montadas barracas de apoio aos trabalhadores e, em alguns pontos, foram instalados banheiros químicos. Ao menos cinco tratores e vários caminhões trafegam na ponte de terra construída entre a margem e a Ilha do Presídio, carregando o material retirado de lá. Ao fundo, se vê a extensão da mata que será alagada pela barragem.
Para os trabalhos à esquerda da margem, a Odebrecht conta com a ajuda de uma balsa, usada exclusivamente no transporte de caminhões e outros veículos. Ali, a paisagem também já está tomada por escavadeiras, que golpeiam o solo exposto. Para a mata nativa, não há escapatória. Quase nada restou em pé e o que não sucumbir às máquinas, será afogado. Pelo projeto da empreiteira, a hidrelétrica terá reservatório de 271,3 quilômetros quadrados. Na prática, 61% dessa área estão na própria calha do rio Madeira. Os outros 39% ficam em terras que brevemente serão inundadas.
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Futuro incerto
(Por Cristiane Prizibisczki, OEco, 27/11/2008)