Com a preocupação ambiental aumentando, cresce também o número de candidatos a cometer loucuras para proteger o planeta. Pelo mundo, há quem more em ilhas de garrafa PET, quem compre caixões de cartolina e até quem coma restos de lixo. No Rio Grande do Sul, um professor de Física da Universidade Católica de Pelotas inventa veículos elétricos, reduzindo a poluição provocada pelos combustíveis. Quando chamam Marco Lessa de louco por desfilar pelas ruas a bordo de suas criações científicas, ele diz que as críticas habituais, segundo as quais modelos movidos a eletricidade andam devagar e percorrem distâncias curtas, são infundadas. E retruca:
– Loucura mesmo é o fato de mais de 90% dos veículos circularem só com o motorista. Em trajetos urbanos, a maior parte da população não percorre mais do que 25 quilômetros entre sua casa e o trabalho. E a velocidade fica em torno de 12 km/h.
O “Einstein gaúcho” avalia que a indústria petrolífera não apóia iniciativas desse tipo por representarem perda de receita. Conseqüentemente, o setor automotivo tem atuação tímida na área. Nem por isso ele deixa de acreditar que os carros elétricos sejam o transporte do futuro.
O primeiro veículo criado pelo professor, em 2002, foi um triciclo que funciona com tração híbrida (pedal e elétrica). O modelo possui uma placa fotovoltaica para recarregar as baterias com a luz solar e chega a 25 km/h. Em seguida, projetou uma moto, um outro triciclo (este destinado a participar da Maratona Universitária da Eficiência Energética, que ocorre em São Paulo), um quadriciclo e, por último, uma bicicleta. A criatividade do inventor não se encerra por aí. Para o futuro, as idéias são ainda mais ambiciosas.
– A próxima máquina será um monociclo com tração 100% elétrica. Para 2009, farei um triciclo coberto (para dias chuvosos e frios) e com acessórios como computador de bordo, retrovisor através de câmera de vídeo e freios a disco nas três rodas – empolga-se.
Especialista em Educação Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP), Pedro Jacobi é a favor de atitudes criativas em prol da sustentabilidade como as de Lessa. Só não concorda quando as pessoas extrapolam.
– A sociedade é individualista, e algumas pessoas vão em busca de holofote. Não se pode incentivar o ridículo ou envolver a questão higiênica – opina Jacobi, referindo-se a medidas curiosas defendidas por alguns ambientalistas como, por exemplo, fazer xixi no banho para economizar a água da descarga e papel higiênico.
(Por Mauro Schneider, ZH, 27/11/2008)