Após cumprir dois trechos de expedições oceanográficas do Projeto Inteligência Socioambiental Estratégica da Indústria do Petróleo na Amazônia (Piatam Oceano), o navio hidroceanográfico Amorim do Valle está a caminho de Fortaleza (CE), onde chegará no sábado (29). Esta etapa é a terceira e última da viagem prevista para 2008.
A bordo do navio estão os pesquisadores Allan Sandes, Rodrigo Abuchacra, Franklin Noel dos Santos e Álvaro José de Almeida Pinto - bolsistas da Universidade Federal do Pará (UFPa) e Universidade Federal Fluminense (UFF).
Eles embarcaram em Belém (PA) e têm a missão de coletar amostras de sedimentos (lama, areia e cascalho) e material bentônico (sedimentos marinhos) em alto mar.
As viagens do Amorim do Valle integram as programações das primeiras expedições oceanográficas do projeto Piatam Oceano, e têm caráter preparatório para a segunda etapa, que deve ocorrer entre 2009 e 2010. Com o apoio do Centro de Hidrografia da Marinha (CHM), desde o dia 6 de outubro, 44 pesquisadores de diversas áreas - geologia, geofísica, geoquímica, oceanografia, biologia (especialistas em bentos, plâncton e mamíferos aquáticos) e de sensoriamento remoto (radiometria) - estão se dividindo entre viagens que envolvem dois dos navios do CHM, o Amorim do Valle e o navio oceanográfico Antares.
Fruto da parceria entre a Petrobras e a Marinha - que envolve cooperação técnica científica e investimentos na adaptação dos navios para as atividades de pesquisa do projeto Piatam Oceano - as embarcações cumprem um total de sete roteiros a serem cumpridos até 18 de dezembro.
As operações foram iniciadas no Rio de Janeiro (RJ) e têm como objetivo obter mais informações sobre a água e o fundo do Atlântico Amazônico, a vida que lá se encontra e também sobre as diversas interações da água oceânica com a Foz do Amazonas.
Mar agitado- Apesar dos contratempos, a primeira etapa foi um sucesso. Foi a ação de linha de frente do Piatam Oceano no Amorim do Valle, onde a gente testou as operações. Não foi fácil. Nos três primeiros dias pegamos condições extremas. O barco balançou bastante. Tivemos que abortar os pontos de coleta que seriam do primeiro trecho e perdemos um dos equipamentos logo no primeiro lançamento - um amostrador Van Veen, uma grande escavadeira de metal que colhe sedimentos no fundo - , conta Gustavo Vaz de Melo, pesquisador da UFF, responsável pela viagem do primeiro trecho, entre Fortaleza e Belém.
- Tivemos que mudar toda a estratégia de amostragem no barco. Fizemos então os pontos que estariam previstos apenas para esta terceira pernada, mais próximos à linha de costa - esclarece Vaz de Melo.
Com a perda do equipamento mais pesado de coleta de sedimentos de fundo, a equipe da primeira fase, entre Fortaleza e Belém, teve que repensar a viagem para reaproveitar os demais coletores levados ao mar, pois não era possível fazer coletas em profundidades superiores a 50 metros.
Para o terceiro trecho de viagem, Belém-Fortaleza, onde finalmente serão coletados dados de água mais profunda, a experiência da primeira pernada será fundamental.
- Também não será muito fácil. A equipe deverá pegar mar de proa e o barco deve balançar bastante, mas o projeto tentará manter o planejamento previsto. Os trabalhos à noite já foram descartados. Se for necessário abortar algum ponto, isso será feito. A segurança está acima de tudo - ressalta Melo.
Após concluir sua última missão de 2008 no âmbito do Piatam Oceano e aportar em Fortaleza, no dia 29, o navio da Marinha retorna ao Rio de Janeiro, onde chega em 13 de dezembro.
O projeto Piatam Oceano reúne 100 pesquisadores do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), das universidades Federais do Pará (UFPA), do Amazonas (Ufma) e do Estado do Maranhão (Uema), do Rio de Janeiro (UFRJ), Fluminense (UFF), estadual do Maranhão (Uema), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG/MCT), da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT) e do Centro de Hidrografia da Marinha (CHM).
A meta do projeto é caracterizar ecossistemas e definir níveis de sensibilidade ambiental nas águas de 20 a 3.500 metros de profundidade da porção oceânica da região Norte. O Piatam Oceano abrange as áreas das bacias da Foz do Amazonas, Pará-Maranhão e Barreirinhas, entre a foz do Oiapoque, no Amapá, ao Norte, e à foz do Parnaíba, no Piauí.
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Jornal do Brasil Online, 26/11/2008)