A insustentabilidade da agricultura moderna, a importância da adoção de um novo marco conceitual, como o agroecológico, e de novos parâmetros na pesquisa agrícola foram as principais questões apontadas pelos participantes da mesa redonda Pesquisando para a sustentabilidade, coordenada pelo deputado estadual Elvino Bohn Gass (PT), na manhã desta quarta-feira (26/11). A atividade integra o X Seminário Estadual e o IX Seminário Internacional sobre Agroecologia, que acontece no salão Dante Barone, na Assembléia Legislativa.
O professor de Agroecologia Santiago Sarandón, da Universidade Nacional de La Plata, na Argentina, acredita que os principais erros que corroboram para a degradação e contaminação dos recursos naturais na atualidade são a crença na inesgotabilidade do meio e na superioridade da ciência, a confiança excessiva nas tecnologias, a visão produtivista e reducionista de cientistas e a avaliação inadequada do êxito econômico das atividades agropecuárias, que desconsidera os custos ambientais. Para Sarandón, a agroecologia é a alternativa ao modelo convencional porque abrange o manejo sustentável dos sistemas agrícolas. Ele crê que, a partir de uma visão agroecológica, pode-se entender a atividade agrícola com um "pensamento mais complexo", a partir de equipes multidisplinares, considerando os vários modos de fazer agricultura, com usos múltiplos do território e entendendo o conhecimento científico não como superior, mas como mais um conhecimento a ser considerado neste processo.
O coordenador do projeto de Transição Agroecológica da Embrapa, João Carlos Canutto concordou com Sarandón quanto à idéia de a agroecologia representar contraposição à chamada agricultura moderna por comportar a aplicação de infinitas formas de manejo sustentáveis e considerar outros saberes além do científico. No entanto, ele alertou para dificuldades por parte do meio acadêmico e das organizações sociais na produção e disseminação de estudos que contribuam na mudança de paradigma da agricultura moderna. "O conceito de sociedade na pesquisa é um conceito vazio", disse ele, comentando que há uma relação direta entre o conteúdo tecnológico e o perfil econômico exigido para adoção de determinada tecnologia. "Não se faz pesquisa em agricultura de precisão para resolver problemas técnicos da agricultura familiar porque, na prática, estes agricultores são considerados atrasados, sem recursos naturais, financeiros e infra-estrutura para assimilar tais inovações. Portanto, não prioritários para investimentos", exemplificou Canutto, que acrescentou: "O rigor metodológico das pesquisas científicas é necessário, mas estas devem ser desenvolvidas de forma participativa e de modo a aproximarem-se da realidade dos produtores, para que estes entendam o sentido de tais estudos na vida prática", salientou.
Para a pesquisadora do CNPq e instrutora do curso de Homeopatia da Universidade de Viçosa, Fernanda Coutinho de Andrade, homeopatia é uma ciência coerente com a agricultura sustentável, uma vez que estimula o uso dos recursos da propriedade, reduz o uso de insumos químicos, etc. "Homeopatia pode ser usada para tudo, desde que seja um organismo vivo. Até mesmo em doenças de animais, controle de ectoparasitas até tratamento de resíduos de agroindústrias de laticínios", contou. Ela destacou ainda que, a exemplo da agroecologia, a homeopatia se preocupa com as causas do desequilíbrio de um sistema natural, e contribui para o controle ambiental fazendo com que todas as formas de manejo tendam a melhorar.
O X Seminário Estadual e o IX Seminário Internacional sobre Agroecologia encerram-se nesta quinta-feira (27/11), com as palestras sobre "A Sistematização como um instrumento para a socialização do conhecimento agroecológico, a Agroecologia no México: seu estado atual e suas perspectivas" e sobre "Construção da Agroecologia: perspectiva histórica a partir dos movimentos sociais".
(Por Andrea Farias, Agência de Notícias AL-RS, 26/11/2008)