Encontrados em quase todo o mundo, tartarugas são animais comuns mas que há muito tempo têm intrigado cientistas por conta de uma anatomia sem igual.
Com corpos protegidos por uma carapaça dorsal arredondada em cima e por um plastrão ventral em baixo, ambos formados por placas ósseas e revestidos com escudos córneos, os simpáticos quelônios pouco precisaram mudar desde a era dos dinossauros.
A descrição dos mais antigos fósseis de tartaruga, publicada na edição desta quinta-feira (27/11) da revista Nature, traz uma nova explicação para a formação da curiosa armadura natural.
Um grupo de pesquisadores da China, Canadá e Estados Unidos encontrou os fósseis de idade estimada em 220 milhões de anos, do Triássico superior, na província chinesa de Ghizhou.
Trata-se de três espécimes adultos extraordinariamente bem preservados e com características nunca vistas, como a presença de dentes e de um casco incompleto que oferece pistas importantes para entender o desenvolvimento da carapaça. A espécie foi denominada Odontochelys semistestacea, que significa “tartaruga dentada e com meio-casco”.
“Desde o século 19, muitas hipóteses foram lançadas para tentar explicar a origem do casco da tartaruga. Agora, temos os fósseis do mais antigo desses animais, que apóiam a teoria de que o casco foi formado de baixo para cima, a partir de extensões da espinha dorsal e das costelas, e não como placas ósseas a partir da pele, como foi teorizado”, disse o paleontólogo Xiao-chun Wu, do Museu Natural do Canadá, um dos autores do estudo.
Os fósseis foram encontrados por Chun Li, da Academia de Ciências da China e aluno de Wu, com a ajuda de agricultores que residem na região. Os exemplares permanecerão na academia chinesa.
Até então, o mais antigo fóssil do réptil era o Proganochelys, com 210 milhões de anos e descoberto na Alemanha. Mas, como os encontrados anteriormente, era um exemplar com casco completo e impediu os cientistas de analisar sua formação, o que foi possível agora.
“O casco é uma inovação evolucionária e é difícil explicar como ele evoluiu sem um exemplo intermediário. Agora, temos a primeira tartaruga com casco incompleto”, disse Olivier Rieppel, do Museu Field de Chicago, outro autor do estudo.
O Odontochelys fortalece a teoria de que o plastrão surgiu primeiro, seguido pelo alargamento da espinha dorsal e das costelas que levou à formação da carapaça. O processo, de baixo para cima, é semelhante ao que ocorre em embriões das tartarugas atuais.
Segundo os cientistas, a mais antiga das tartarugas descobertas até hoje permite concluir que se tratava originalmente de um animal aquático. A presença do plastrão serviria para proteger o animal do ataque de predadores. “Répteis que vivem na terra têm ventres próximos ao solo, com pouca exposição ao perigo”, disse Rieppel.
O artigo An ancestral turtle from the Late Triassic of southwestern China, de Chun Li e outros, pode ser lido por assinantes da Nature.
(Agência Fapesp, 27/11/2008)