A comunidade da Capela São Casemiro, na Linha 14 de Julho, está apreensiva: desde o final de outubro convive com tremores de terra. Conforme relato de moradores da localidade, que fica próxima à Barragem da Companhia Energética Rio das Antas (Ceran), os movimentos de terra e os estrondos são rápidos e mais comuns à noite e pela madrugada.
– Minha casa fica a 600 metros do rio, e a gente sente o chão tremer e os vidros das janelas balançarem. Nunca tínhamos sentido isso antes. Passou a ocorrer depois que encheram mais o rio – relata Claudio Miecnekovski, 47 anos.
O agricultor conta que, em um final de semana, estava na igreja com os familiares e, enquanto o padre rezava a missa, foram surpreendidos com um forte barulho. Miecnekovski informa que por volta do dia 10 deste mês, o nível do rio baixou e os tremores diminuíram.
Jardel Vicari, 24, outro agricultor das redondezas, também afirma ter notado que os tremores ocorrem principalmente quando o nível do rio está normal. Segundo ele, os impactos duram cerca de três segundos.
– A gente fica assustado porque a casa e as janelas sacodem. Gostaríamos de saber porque isso está acontecendo. Alguns dizem que é por causa do peso da água, mas a gente precisaria de uma resposta técnica – pede o morador.
O agricultor Irani de Oliveira, 37, explica que em alguns dias os barulhos são mais freqüentes e em outros, menos. O que mais chama atenção é a vibração.
– Fico espantado porque é algo que nunca tínhamos vivido antes – comenta.
Os moradores solicitam uma posição técnica da prefeitura ou de algum órgão público. O secretário municipal de Obras, Zaldi Griguol, conta que nenhum morador o procurou. Segundo ele, ficou sabendo dos tremores pelo rádio.
– Eu fui procurar os moradores e falei com três pessoas: uma me disse que não ouviu nada, outro morador afirmou que já sentiu os tremores e uma terceira pessoa me disse que não era para se preocupar com isso – conta o secretário.
Ele garante, entretanto, que entrará em contato com representantes da Ceran para ver se há alguma relação com a barragem. Por meio da assessoria de imprensa, o diretor-superintendente da Ceran, Vendolino Fischer, informa que os sismógrafos da companhia não acusaram tremores de terra em Cotiporã. Segundo ele, a empresa não possui registro de qualquer incidente desta ordem motivado pelos reservatórios das usinas hidrelétricas.
No dia 10 deste mês, houve tremores em Caxias do Sul. Centenas de moradores sentiram o fenômeno às 5h. Segundo especialistas, há duas hipóteses para a causa: o efeito da infiltração da água sob rochas subterrâneas e o movimento de acomodação das placas tectônicas.
A Ceran
O Complexo Energético Rio das Antas (Ceran) abrange três usinas hidrelétricas: Monte Claro, Castro Alves e 14 de Julho. A 14 de Julho é a última das três a ser implantada e deve começar a funcionar no próximo mês.
Localização
- Margem direita: Cotiporã e Veranópolis
- Margem esquerda: Bento Gonçalves
- Local da construção da barragem: entre Linha Alcântara (Bento Gonçalves) e Linha 14 de Julho (Cotiporã)
Características
Máximo do nível normal: 104 metros
Soleira vertente: 29 m
Queda bruta: 33,40 m
Potência instalada: 100 MW
Energia assegurada: 50 MW
Área do reservatório: 5 km2
* A usina deverá entrar em funcionamento em dezembro.
fonte: site da Ceran (http://www.ceran.com.br)
(O Pioneiro, 26/11/2008)