Paraísos turísticos da Austrália como as praias de Bondi e Manly, em Sidney, e Bayron Bay, no norte de Nova Gales do Sul podem ser varridas ou movidas para o interior do continente. É o que prevêem especialistas do Centro de Gerenciamento Litorâneo da Universidade australiana Griffith. De acordo com eles, a costa do país será chicoteada nos próximos anos por pesadas tempestades, ondas extremas e elevadas marés, provocadas, em parte, pelos impactos do aquecimento global.
Sete anos de estudo foram necessários para examinar algumas das piores tempestades tropicais que atingiram a costa leste do país desde o estabelecimento britânico na região. Foi descoberto que os períodos de fortes chuvas são cíclicos e a Austrália - que experimentou seu último período tempestuoso na década de 70 - deve se preparar para uma nova temporada.
Peter Helman, co-autor do relatório, disse que o efeito do próximo período de tempestade, que poderá durar mais de dez anos, será agravado pelo aumento do nível do mar causado pelas alterações climáticas. Segundo ele, praias situadas nas costas arenosas do sul de Queensland, norte de Nova Galesdo Sul e Sydney poderão se tornar "irreconhecíveis" na década futura.
"É muito provável que dentro de 10 anos a Austrália veja as conseqüências da erosão que nunca antes havia observado em sua história", disse. "Será mais severo do que nos períodos tempestuosos do passado por causa da mudança do clima e do subseqüente aumento no nível do mar".
Sertão australiano
Os especialistas não têm dúvidas em afirmar que a Austrália, o continente habitável mais seco do mundo, está sentido uma versão acelerada do aquecimento global, refletido por secas extremas e tempestades severas repentinas. O país é bastante
vulnerável às mudanças de temperatura e precipitações porque tem muitas áreas áridas e semi-áridas.
De longe, a maior parte da geografia da Austrália é composta por desertos ou zonas semi-áridas, 40% da massa terrestre está coberta por dunas de areia. Só os cantos sudeste e sudoeste têm um clima temperado e um solo moderadamente fértil. O país
foi, inclusive, incluído recentemente pelas Nações Unidas em uma lista de países mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas.
Estudos dão conta de que as temperaturas médias anuais devem aumentar 6 graus Celsius até 2070.
A maioria dos australianos vive em grandes cidades litorâneas, ou seja, o aumento na incidência de tempestades e ondas extremas ameaçará cada vez mais as comunidades com inundações e a erosão severa do litoral.
Segundo Peter Helman, o país precisa agora criar um plano de evacuação emergencial para a costa leste inteira, tentando evitar maiores prejuízos, caso as fortes tempestades venham de fato atingir a região. "Melhorar o planejamento de emergência é importante porque quando o evento ocorre, teremos muito pouco tempo para agir e, a menos que estejamos preparados para o pior, poderemos presenciar um desastre parecido com o do Katrina (nos EUA)", disse.
IPCC
A descoberta australiana não foge das previsões apontadas pelo Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC) no ano passado. Relatório divulgado pela entidade mostrou dados alarmantes sobre asconseqüências das mudanças climáticas em curso no planeta. Entre as principais ameaças estão o aumento na freqüência, intensidade e duração de eventos atmosféricos anômalos e a elevação do nível do mar. Um dos principais impactos dessas ameaças é a erosão das praias ou erosão costeira.
O relatório diz que o nível dos mares deve subir devido ao derretimento das calotas polares, o que provocaria transtornos em áreas litorâneas da Austrália e da Nova Zelândia, com "maiores inundações costeiras, erosão, perda de manguezais e intrusão
da água salgada nas fontes de água doce."
(Por Tatiana Feldens, AmbienteJá, 26/11/2008)