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corte de árvores
2008-11-25
Na prática, o que ocorreu na praça de Ana Rech, onde foram cortados dois ligustros, foi que as duas árvores saíram para facilitar o estacionamento dos carros dos visitantes do Encanto de Natal. O palco, que entrava na rua, abriu espaço para os carros e subiu o canteiro da praça, tomando o lugar dos ligustros.

Parece pouco, muito pouco, dois ligustros. Mas isso é de uma insanidade completa, retirar árvores da praça para que dois ou três carros possam estacionar mais perto. Pelo menos essa foi a justificativa oficial. Ora, mas haveria uma infinidade de alternativas para equacionar tão prosaico problema. Entre elas, salta aos olhos a evidência de que os carros ficam onde puderem ficar, que caminhar quatro ou cinco quadras faz bem para a saúde e não tira pedaço de ninguém. Os ligustros agradeceriam. Mas não, os ligustros já viraram lenha.

Árvore só se corta por motivo de extrema relevância social, e ainda assim, olhe lá! Parece elementar, mas em Caxias do Sul não é. Não se sufoca nem se agride a natureza, mas sim, organizam-se os espaços para a vida em comunidade a partir das condições naturais. Cortar dois ligustros para que os motoristas dos carros possam estacioná-los mais perto é ir longe demais, é banalizar a motivação para a derrubada.

Vale o mesmo para os pedestres. À primeira vista, o mundo segue seu rumo se nada for feito para protegê-los na Rótula Nelson Bazei, se não forem instaladas passarelas ou sinaleiras três-tempos pela cidade. Cada um que se vire. Mas não pode ser assim. As cidades, as administrações, têm de tratar cada ator urbano, pedestre, morador, contribuinte, usuário de qualquer serviço, com o máximo de respeito, com mesuras e deferências, com demonstrações de zelo e cuidado.

Só assim uma cidade torna-se referência e modelo de respeito a seus moradores, aos pedestres, exemplo de humanização no trânsito, de crescimento integrado ao meio ambiente, de preservação do verde. Do contrário, continua sendo uma cidade tosca, agressiva, que corta árvores por motivos banais e atira seus pedestres a um salve-se-quem-puder primitivo. Fica muito chato e ruim essa noção a respeito de Caxias do Sul, mas é ela que está em pleno vigor. Uma cidade que não valoriza as pessoas e a natureza. E nada pode ser mais arcaico do que isso.

(Pioneiro, 25/11/2008)

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