O recado foi dado. Mesmo nem sempre chegando a um consenso, os congressistas internacionais da Eco Power Conference, que se encerrou na sexta-feira (21/11), em Florianópolis, deram o seu alerta para a necessidade de novos rumos na busca da sustentabilidade do planeta. Mas uma sustentabilidade, reforçam, que só cumpre seu papel quando vai além da questão econômica.
Na abertura do evento, na quarta-feira, o austríaco Fritjof Capra, físico e ambientalista, já reclamava de uma banalização do termo sustentável. O sociólogo britânico John Elkington, um dos fundadores da Consultoria SustainAbility, compartilha da preocupação.
Elkington lembra que quando começou a trabalhar com o termo, no final da década de 1980, ninguém entendia o seu real significado. Hoje, reclama das diferentes definições dadas.
O sociólogo reforça que a idéia original do termo é pautada num tripé ações econômicas, sociais e ambientais na preservação dos recursos naturais para as gerações futuras, mas hoje os dois últimos pontos são deixados de lado em ações de determinadas empresas. E para o consumidor diferenciar as ações realmente sustentáveis daquelas que mais se enquadram como marketing, Elkington defende uma forte participação do governo e de movimentos de apoio ao consumidor.
- É um processo complicado, um desafio sistêmico. Não podemos deixar isso só com o consumidor. É preciso que o setor varejista, os grupos de militantes e os governos façam com que as mudanças aconteçam e cheguem ao público em geral - destaca, lembrando que a sustentabilidade deve ser pensada, por governos e empresas, a longo prazo.
Preocupações com as gerações futuras
O presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, Israel Klabin, que trocou a carreira de empresário do setor de papel pela de ambientalista, defende o conceito de sustentabilidade de Elkington, saindo do viés essencialmente econômico. Para ele, o debate se reforça em tempos de crise.
- Vivemos mais uma crise sistêmica do modelo econômico, mas essa crise se acomoda em poucos anos. Já a crise ambiental traz problemas irreversíveis.
Para Patrick Moore, membro fundador e ex-presidente do Greenpeace, o conceito de sustentabilidade apareceu num momento em que ele, nas próprias palavras, deixou de ser apenas do contra para buscar propostas.
- Sustentabilidade é reduzir nosso impacto negativo sobre o meio ambiente. E com mudanças de comportamento e de tecnologias, isso é perfeitamente possível. Pode-se começar desligando a luz quando sair da sala, depois trocando a lâmpada por uma de consumo menor. Esse é um princípio que se aplica em tudo no nosso dia-a-dia - defende.
As propostas em busca da sustentabilidade
Fritjof Capra
O físico Fritjof Capra, autor do livro O Tao da Física, diz que o maior desafio atual é construir uma comunidade sustentável, ambiental, cultural e socialmente.
- Uma comunidade que pode atender às nossas necessidades sem comprometer o futuro das próximas gerações. O primeiro passo é entender como a natureza sustenta a vida. Toda a estrutura biológica constantemente se conserta pela rede celular. O corpo constantemente se recicla - aponta o ambientalista austríaco. Para Capra, o conceito de sustentabilidade está banalizado, usado pelo aspecto econômico sem o contexto ecológico, que é o que dá o seu significado.
Ron Pernick
O americano Ron Pernick, fundador da consultoria Clean Edge, é empresário da área de pesquisas de mercado, estratégias e desenvolvimento empresarial com mais de duas décadas de experiência em tecnologia limpas, como a solar e a eólica, um dos caminhos para a sociedade sustentável.
- Tecnologia limpa é aquela que usa e explora materiais e fontes de energias renováveis, cortando ou até mesmo eliminando os desperdícios e proporcionando um desempenho superior ao que é registrado pelo método convencional. Precisa ser melhor e ser mais barata que a tradicional.
Lester Brown
Descrito pelo Washington Post como "um dos pensadores mais influentes do mundo", Lester Brown cobra uma participação coletiva rumo a sustentabilidade.
- É preciso uma reestruturação da indústria, um esforço gigantesco, mas algo totalmente factível. Não é um processo para ser assistido, temos que ser ativos. Ele reclama da morosidade da atuação pública e diz que avanços estão começando por iniciativas isoladas.
- Os acordos internacionais sobre mudanças climáticas tornam-se obsoletos porque demora-se tanto para negociação. É uma grande queda de braço e as mudanças práticas são muito pequenas.
John Elkington
O sociólogo britânico John Elkington foi um dos fundadores da consultoria SustainAbility. Ele defende que os desafios na busca pela sustentabilidade devem ser trabalhados de forma conjunta por empresas, governos e pela própria população.
- Estamos rumando para um futuro que é muito mais instável e insustentável do que atualmente achamos - aponta o consultor que tem clientes como Coca-Cola, Ford, Microsoft, Nestlé e Nike. Num cenário de crise internacional, ele diz que é difícil prever quais as empresas terão problemas, mas vê o momento como uma oportunidade de evolução.
Patrick Moore
Membro fundador e ex-presidente do Greenpeace, o canadense Patrick Moore deixou o Greenpeace em 1986 e preside hoje o Greenspirit, empresa de consultoria ambiental. Foi no meio dessa mudança que ele conheceu o conceito de sustentabilidade. Polêmico, o ambientalista defendeu a energia nuclear como uma fonte segura e limpa. Outra posição controversa foi o tom dado ao alerta do descongelamento das geleiras. Moore reconhece o problema, mas se diz menos alarmista. Para o ambientalista, dizer que as geleiras devem parar de descongelar também é errado.
- Se acabarem as geleiras, não teremos mais água. Mas se elas não descongelarem, também não teremos. Não podemos ter o bolo, mas também não podemos comê-lo - discursou.
(Diário Catarinense, FGV, 24/11/2008)