Cerca de 200 famílias do MST ocuparam as fazendas Tangará e Marruá, localizadas no município de Agudos (325 km da capital), na manhã de quinta-feira (20/11). As duas áreas somam mais de 600 hectares e compõem um complexo de fazendas de mais de quatro mil hectares de terras, já vistoriadas e decretadas improdutivas.
Apesar de estarem indicadas para decreto de desapropriação para fins de Reforma Agrária, as áreas estão cobertas com plantio de cana-de-açúcar para abastecer as usinas da região. Além da Tangará e da Marruá, ainda fazem parte do complexo as fazendas Suinã, Ponte Alta e Nossa Senhora de Fátima.
Outras fazendas da região estavam na mesma situação e, a com a luta do Movimento, cerca de 500 famílias estão sendo assentadas. Os trabalhadores e trabalhadoras exigem que o mesmo aconteça com o complexo Marruá. "Queremos o assentamento imediato das famílias. Estamos propondo a reforma agrária como alternativa para o etanol, um modelo que está falindo com a crise internacional", afirmou Delweck Matheus, integrante da coordenação estadual do MST.
Depois da ocupação, a superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em São Paulo reafirmou que as duas fazendas são improdutivas. De acordo com o órgão, o governo prepara o processo de desapropriação dos latifúndios para possibilitar o assentamento das famílias. O processo deve ter uma decisão nesta sexta-feira.
O decreto de desapropriação depende de uma licença ambiental a ser dada pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. De acordo com o Incra, o fato da área estar sendo utilizada para plantio de cana-de-açúcar não descaracteriza a situação de improdutividade constatada durante a vistoria. O dono da Tangará entrou com pedido de reintegração de posse no Fórum de Agudos.
Protesto
Na manhã de quinta-feira, 600 integrantes do MST, Intersindical, Conlutas, Marcha das Mulheres e diversos sindicatos fizeram uma manifestação para denunciar os impactos sociais e ambientais negativos do programa de agrocombustíveis do governo federal, em frente ao Grand Hyatt Hotel, na zona sul da capital, onde acontecia Conferência Internacional sobre Biocombustíveis
O protesto denunciou a lentidão do governo em realizar a Reforma Agrária, enquanto a monocultura da cana, as usinas de produção de etanol e as empresas transnacionais avançam – com subsídios do governo federal - para dominar a agricultura, prejudicando a produção de alimentos e o meio ambiente.
Segundo manifesto divulgado nesta semana por diversos movimentos e entregue a à conferência do governo, “o modelo de agricultura industrial, onde se inserem os agrocombustíveis, é intrinsecamente insustentável, pois apenas se viabiliza através da expansão das monoculturas, da concentração de terras, do uso intensivo de agroquímicos, da superxploração dos bens naturais comuns como a biodiversidade, a água e o solo. Os agrocombustíveis representam uma grave ameaça à produção de alimentos. Independentemente dos cultivos utilizados para a produção de energia, comestíveis ou não, trata-se da competição por terra agricultável e por água.”
(MST, 21/11/2008)