Cientistas compararam dados de poluição com internações hospitalaresCrianças e idosos são os mais afetados pela fumaça.
Estudo apresentado pela epidemiologista da Universidade Federal de Mato Grosso Eliane Ignotti demonstra haver uma correlação entre as internações hospitalares por doenças respiratórias e as queimadas na Amazônia.
Pesquisadores analisaram dados de 2004 e 2005 do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) referentes à concentração de partículas sólidas suspensas no ar, que pode ser medida por satélite, e os compararam com as internações registradas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todas as microrregiões da Amazônia no mesmo período. Os resultados demonstraram que, em toda a Amazônia Legal, cerca de 10% dos idosos internados por problemas respiratórios são vítimas da poluição e entre as crianças de 0 a 5 anos, o índice é de 7,6%. Os dois grupos são os mais afetados, independentemente da camada social.
O grupo de pesquisadores envolvidos no estudo fixou como 80 microgramas por metro cúbico o limite a partir do qual a concentração para o material particulado seria considerada crítica. Segundo Eliane, internacionalmente se considera saudável um limite de 30 microgramas por metro cúbico, embora algumas regiões do arco do desmatamento - faixa de devastação que vai do Acre até o Maranhão, margeando o sul e o leste da Amazônia - por vezes apresentem concentrações até sete vezes maiores.
Produziu-se um mapa em que aparecem as áreas em que a exposição da população ao ar poluído é alta, que coincide aproximadamente com o arco do desmatamento. A população nas microrregiões ao longo dessas áreas apresentou maiores índices de internação por problemas respiratórios ligados à poluição. Foi levado em conta apenas o material suspenso mais fino – com partículas de até 2,5 micrômetros (um milionésimo de metro) -, que é aquele que chega até os brônquios quando respirado.
Eliane apresentou os resultados da pesquisa na Conferência Científica Internacional Amazônia em Perspectiva, que acontece até quinta-feira (20), em Manaus, e reúne quase mil pesquisadores e estudantes.
(Por Dennis Barbosa, Globo Amazônia,
G1, 20/11/2008)