O avanço das monoculturas de cana-de-açúcar para a produção de biocombustível está preocupando os pequenos agricultores do país, principalmente nas regiões Norte e Centro Oeste. O cultivo de cana na Floresta Amazônica e no Cerrado brasileiro já causa grandes impactos sociais e ambientais.
Para contrapor o modelo de desenvolvimento econômico, que vem priorizando a plantação intensiva de cana-de-açúcar, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Rede Social de Justiça e Direitos Humanos realizaram estudo sobre o assunto. O trabalho resultou no relatório "Os impactos da produção de cana no Cerrado e na Amazônia", lançado na última terça-feira (18).
A pesquisa englobou 11 estados brasileiros. Plácido Júnior, da CPT, aponta que a devastação é um dos principais impactos. Em alguns municípios, foram encontrados até 70% da vegetação nativa derrubada para o monocultivo.
“O monocultivo é devastador em qualquer canto que ele se instale. Então, já vimos, por exemplo, a devastação ambiental, a derrubada do Cerrado brasileiro, da Floresta Amazônica, para poder cultivar cana-de-açúcar e sabemos que ela no seu cultivo tem uso intensivo de agrotóxicos, de água e produtos químicos”, diz.
Júnior alerta ainda que no Cerrado, região que está projetada para ter o maior número de usinas no país, encontram-se as principais bacias hidrográficas. Se o avanço das usinas não for freado, as bacias vão ter uma baixa de água que prejudicará toda a população. Além disso, ele avalia que o modelo de produção de etanol proposto pelo governo federal submete o produtor às transnacionais e resulta em mão-de-obra escrava, indígena e migrante.
“É prejudicial à agricultura familiar e camponesa, porque submete toda a sua terra e produção e compromete a produção de alimento dos pequenos para a produção só de cana. Não tem como pensar alternativas, dentro deste modelo de sociedade e de produção”, diz.
O relatório foi lançado durante o Seminário Internacional Agrocombustíveis como obstáculo à construção da soberania alimentar e energética, que ocorreu entre os dias 17 e 19 de Novembro em São Paulo. O evento, realizado pela Via Campesina e entidades parceiras, é um contraponto à Conferência Internacional Biocombustíveis como vetor do Desenvolvimento Sustentável, do governo federal.
(Por Paula Cassandra, Agência Chasque, 20/11/2008)