A oferta de compra das ações que a Aracruz Celulose possui da Veracel proposta pela Stora Enso é mais um desdobramento da especulação cambial feita pela papeleira este ano. A crise da Aracruz motivou a Stora Enso, transnacional sueco-finlandesa, a estudar a compra dos 50% que a Aracruz tem da fábrica de celulose instalada no Sul da Bahia. Com a compra, a Stora Enso vai controlar sozinha a empresa.
A Aracruz avalia a venda das ações, já que deve aos bancos US$ 2 bilhões por causa das operações com derivativos. As especulações com o câmbio trouxeram prejuízos para a papeleira, resultando na paralisação das obras de quadruplicação da fábrica em Guaíba, região metropolitana do Rio Grande do Sul.
Para Cíntia Barenho, da organização não-governamental gaúcha Centro de Estudos Ambientais (CEA), mesmo que as papeleiras direcionem investimentos para outros estados, o Rio Grande do Sul continua na mira das empresas de celulose. Ela avalia que o avanço da Stora Enso no sul da Bahia é uma estratégia para que a papeleira ganhe uma imagem mais brasileira, já que praticou ilegalidades ao comprar terras na zona de fronteira gaúcha.
“O Rio Grande do Sul continua sendo visado, porém, tem mais dificuldades aqui para se estabelecer no Estado. Pode dar uma parada estratégica, eles não vão deixar de fazer o que querem que é transformar a Metade Sul e o Pampa gaúcho, argentino e uruguaio num território deles, num local para produção da celulose”, diz.
No Sul da Bahia, hoje existe uma área plantada de quase 700 mil hectares de eucalipto, abrangendo 21 municípios. A fábrica da Veracel está na cidade de Eunápolis e na região também está instalada a unidade da Suzano Papel e Celulose.
Ivonete Gonçalves, do Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia (CEPEDES), avalia que, se a Stora Enso comprar as ações da Aracruz, pouco vai mudar para os trabalhadores ou para a região. Ela aponta que os impactos ambientais e sociais continuarão ocorrendo, como o êxodo rural, redução dos recursos hídricos e contaminação dos rios.
“Não muda muita coisa, até porque o comportamento dessa empresas é padrão, comprando funcionários públicos, não cumprimento de lei. Então, Aracruz e Stora Enso uma saindo ou outra, nessa questão, não tem muito impacto”, diz.
(Por Paula Cassandra, Agência Chasque, 20/11/2008)