O canto do pássaro uirapuru, conhecido como pai da mata, anuncia a chegada à área do lote 55, zona rural de Anapu, onde é desenvolvido o Projeto de Desenvolvimento Sustentavel (PDS) Esperança, idealizado pela missionária Dorothy Stang, assassinada em 2005.
Ali, o que se vê é mata fechada, árvores altas e clima bastante úmido, o habitat do pássaro que só é encontrado em florestas densas.
A paisagem é bem diferente do percurso de aproximadamente 20 quilômetros até chegar ao PDS idealizado pela missionária. Neste trecho, a imagem é de desmatamento, corte raso e floresta queimando. É isso o que se observa ao logo do Travessão Santana, estrada de terra que corta a floresta até o PDS Esperança.
Os próprios agricultores do lote 55 sabem explicar a clara diferença das paisagens dentro da mesma floresta amazônica. "Aqui é meu paraíso, de onde tiro meu alimento. Cada árvore aqui é importante para tudo que fazemos", explica o agricultor Raimundo Souza, conhecido como Paraupebas.
Ele mora sozinho em uma casa de madeira. "Nasci aqui e andei por São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Acre. Como sou analfabeto, nada deu certo e voltei para o que sempre soube fazer", conta mostrando pés de mamão e uma roça de abacaxi, plantados por ele.
O agricultor Manoel Filho, também morador do lote 55, cultiva arroz, feijao, milho e caucau. "Se tivéssemos mais apoio, poderíamos plantar mais e vender na cidade. O que colhemos aqui dá apenas para nosso sustento", afirma.
A única escola do lote 55, uma área de três mil hectares, é feita de troncos de madeira, coberta com palha. Não há paredes. "Todos os dias caminhamos cerca de um quilômetro e meio até a escola", diz a professora Francisca Silva dos Santos.
Devido às incertezas que marcam a posse da terra e a dificuldade para continuar os estudos, a única professora da região pensa em deixar o local no próximo ano. "Não temos apoio para nada aqui. Quero continuar a estudar, me formar e, como não tenho carro, fica dificil ir até a cidade".
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Agência Brasil, 20/11/2008)