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biocombustíveis soberania alimentar política energética
2008-11-20

Finalizada ontem (19/11), a 1ª Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, promovida pelo governo brasileiro, foi, segundo a ambientalista Lucia Ortiz, “uma grande propaganda do etanol”. O evento não contou com a presença do presidente Lula, de outros chefes de Estado e não oportunizou que acordos fossem fechados sobre o biocombustível produzido a partir do etanol. “Foi uma grande feira de negócios”, disse Lucia, ao analisar a presença de muitos empresários desse setor. Lucia esteve presente nesta conferência e também no evento paralelo organizado pelos movimentos sociais para discutir o modelo da política brasileira em relação à produção ao etanol.

Lucia Ortiz é coordenadora do Núcleo Amigos da Terra e do GT Energia do Fórum Brasileiro de Ongs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. É geóloga e mestre em Geociências.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – A Conferência Internacional sobre Biocombustíveis: os biocombustíveis como vetor do desenvolvimento sustentável é patrocinada pelo governo brasileiro. Em sua opinião, o governo pretende com esse evento?
Lucia Ortiz –
A pretensão do governo, ao unir esforços, investir e promover esse evento, foi a de conquistar uma aceitação do etanol brasileiro no mercado internacional. Ou seja, expandir seu mercado de exportação de commoditie agrícola energética, principalmente em relação ao etanol, que é produzido a partir de grandes cultivos agroindustriais. Por isso nós chamamos de agrocombustíveis. Em contraposição a esse conceito, a conferência do governo chama de biocombustíveis, como vetor do desenvolvimento sustentável, expressão da qual discordo.

Era esperada a presença de chefes de Estado de nível ministerial, pelo menos, nessa conferência, mas isso não se confirmou. O que estamos vendo no evento oficial é a presença de níveis mais baixos de representação dos governos e uma grande feira de negócios. Existem muitos empresários que estão fazendo uma grande promoção desse setor. A questão da crise financeira afetou a não vinda dos chefes de Estado, mas alguns países não viram aqui oportunidade de firmar acordos ou lançar algum projeto de padronização. Outros países entenderam essa conferência mais como uma grande propaganda do etanol do que uma oportunidade de fazer grandes negócios.

Por que você discorda da idéia em torno do biocombustível?
Ortiz –
Eu não concordo com essa tese porque penso que a estratégia de promoção dos agrocombustíveis, utilizada pelo governo brasileiro, tem como base a expansão das monoculturas voltadas à exportação. As monoculturas para os agrocombustíveis se somam a todo o modelo do agronegócio que está em franca expansão e tem impactos diretos e indiretos sobre a redução da biodiversidade, em razão dos deslocamentos de populações tradicionais de pequenos e médios agricultores que de fato produzem o alimento da população brasileira. Eles são ainda são responsáveis pelas mudanças do uso do solo, pelo desmatamento e, desta forma, contribuem para o aquecimento global. Como se destinam para abastecimento da indústria automobilística que prioriza o transporte individual e precisa de insumos que envolvem muita energia para ser produzida, eles alimentam um modelo de transporte e de produção agrícola que é altamente impactante para o clima. Por isso, as mudanças climáticas devem ser resolvidas com mudanças mais estruturais.

Os movimentos sociais fizeram um evento paralelo ao oficial, qual o conteúdo das discussões e os objetivos dessa iniciativa?
Ortiz –
Nós tivemos um encontro que reuniu mais de cem pessoas de vários países da América Latina, também dos Estados Unidos, Europa e até da Ásia. Tivemos uma representatividade muito boa e que se reuniu por três dias com o objetivo de avaliar um pouco a conjuntura da crise financeira. Nós a entendemos como uma crise de modelo de civilização, pois estamos vendo a crise climática, a crise energética, a escassez da água e, ainda, a crise financeira que mostra que esse modelo econômico está acabando com o nosso capital natural, a nossa base da vida. A partir desse contexto, nós analisamos a estratégia que o governo quer empurrar e nos aprofundamos na análise dos impactos e as estratégias para minimizá-los. Fizemos críticas específicas e num segundo momento apresentamos nossas propostas para construção da soberania energética e alimentar. É um conceito que se opõe ao discurso e ao conceito do governo.

A crise mundial desfocou o debate em torno da crise climática que cada vez mais ganhava espaço ou se trata de oportunidade que poderá alavancar ainda mais o debate sobre a crise ambiental?
Ortiz –
Com certeza, ela é uma oportunidade porque mostra um colapso desse nosso modelo, desse padrão de consumo e produção, de acumulação de riquezas e distribuição desigual e que é baseado no desperdício excessivo de energia. Então, ela traz muitas oportunidades de reflexão e de repensar os modos de vida no campo e na cidade, e centrando nas necessidades reais das pessoas. Por outro lado, vemos que o governo está muito preocupado com o impacto da crise financeira para suas metas de crescimento econômico. É possível que o governo, através dessa crise, para estimular a economia, mesmo aplique recursos públicos nos seus projetos num objetivo de gerar empregos, acelerar a economia apesar a crise. Estamos vendo duas coisas: uma oportunidade de reflexão e de construção de alternativas, mas vemos que a intenção do governo ainda está indo em outro sentido, apostando ainda mais no mercado de exportação, não tanto no que a população precisa.

O modelo de política que está sendo realizada para os biocombustíveis será afetado pela crise financeira?
Ortiz –
Imaginávamos que sim, mas, como o próprio governo está investindo forte nesse setor, a crise não afetará a intenção do governo. O que pode afetar é a retração dos mercados que iriam importar. Em duas semanas, uma decisão muito importante será tomada no Parlamento da União Européia em relação à aprovação ou não de metas compulsórias de substituição de combustíveis fósseis por agrocombustíveis. Se eles aprovarem, todo o combustível será importado, pois eles não têm terra para isso. Por isso, as soluções para conter o problema do clima vão recair sobre os países menos responsáveis pelas mudanças. E a intenção do Brasil é avançar nesse setor.

Os biocombustíveis afetam a soberania alimentar?
Ortiz –
Sim, porque na medida em que o agronegócio avança, inviabiliza a produção da agricultura familiar, que é a base da soberania familiar no Brasil. O avanço dos agrocombustíveis  afeta diretamente sobre o pequeno produtor que sai do meio rural e vai para a cidade. Com isso, nós acabamos importando alimentos ou massificando a nossa dieta alimentar porque não valorizam uma alimentação diversificada e saudável e, principalmente, mais amigável para o meio ambiente.

(Instituto Humanitas Unisinos, 20/11/2008)


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