O conjunto estudado: economia de 198 kWh por apartamento
O uso da energia solar para o aquecimento do banho em moradias populares pode e deve ser incentivada pelo Governo Federal. Dados que comprovam esse potencial foram apresentados na manhã desta quarta-feira (19/11), durante o II Congresso Brasileiro de Energia Solar, que prossegue na UFSC até sexta-feira.
Alguns dos principais resultados do estudo desenvolvido por pesquisadores dos departamentos de Engenharia Civil e de Engenharia Elétrica da UFSC foram mostrados durante a apresentação do artigo ´Avaliação do potencial da agregação da energia solar térmica para fins de aquecimento de água para o banho humano em núcleos habitacionais de baixa renda`. O trabalho é um dos 156 aceitos para apresentação no congresso.
O artigo é resultado de um estudo que permitiu o uso de sistemas solares para o aquecimento da água do banho de 60 famílias, em um condomínio no bairro de Canasvieiras, em Florianópolis. Outras 30 famílias do mesmo conjunto habitacional continuaram usando apenas a energia elétrica, para comparação. Os resultados indicam uma redução de 37% dos gastos de energia elétrica no condomínio durante o ano. Foram economizados 198 kWh por apartamento ao longo de 12 meses.
“Os resultados obtidos demonstram que, embora Florianópolis esteja localizada numa região de baixa incidência solar, correspondendo possivelmente ao caso mais desfavorável no País, a energia solar apresenta-se bem distribuída, permitindo que a agregação da energia solar térmica ao aquecimento de água para o banho proporcione ganhos significativos em economia de energia elétrica e na redução da demanda nos horários de pico”, ressaltam os autores. De acordo com a equipe, os indicadores técnicos obtidos são significativos e permitem vislumbrar a redução de custos em sistemas de geração e de distribuição de energia elétrica, caso a energia solar térmica seja integrada à moradia de interesse popular.
O trabalho alerta que o aquecimento de água para o banho é um dos maiores problemas energéticos do Brasil. O chuveiro está presente em 67% das moradias, atingindo cerca de 18 milhões de famílias, e representa, em média, 23% do consumo da energia de uma moradia. Por isso, pode ser considerado um dos grandes vilões da economia de energia.
É um problema também para as classes populares. O governo federal oferece um subsídio para o consumo de energia de famílias de baixa renda, que pode ser utilizado em casas com gastos mensais de até 80 kW/h, ou até 220 kW/h, se a família é inscrita em algum programa de assistência. No entanto, o uso do chuveiro elétrico representa um gasto de no mínimo 70 kW/h por mês, o que torna impossível que o chuveiro seja usado e a casa ainda receba o subsídio. Uma família de baixa renda que não recebe o benefício do Bolsa Família, por exemplo, e gasta pouca energia elétrica, não consegue o subsídio do governo para a conta de luz, porque boa parte do seu gasto é com o aquecimento do chuveiro elétrico. O estudo da UFSC mostra que o problema poderia ser minimizado com a combinação entre energia elétrica e solar nas residências.
A análise leva em conta o enorme potencial de uso da energia solar do Brasil. “O país recebe forte incidência todos os meses dos anos e estudos indicam que poderia aquecer a água a 40° ou 50°”, exemplifica a equipe. A expectativa dos autores é de que os dados sejam difundidos e levados em conta em estudos sobre o planejamento energético brasileiro.
O II Congresso de Energia Solar é realizado em paralelo a III Conferência Latino-Americana da Sociedade Internacional de Energia Solar e prossegue até sexta-feira, no Centro de Cultura e Eventos da UFSC.
(Por Arley Reis e Letícia Arcoverde, Agecom UFSC, 19/11/2008)