A promessa feita por Barack Obama de reduzir em grande medida a emissão de gases do efeito estufa até 2020 significa um "imenso sinal" de encorajamento para os países envolvidos na negociação de um novo pacto mundial sobre o clima, afirmou na quarta-feira o chefe do Secretariado sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU).
O presidente eleito dos EUA disse na terça-feira que o país participaria ativamente das negociações sobre as mudanças climáticas depois de ele tomar posse. E prometeu adotar medidas para reduzir sensivelmente o volume de emissões do país até 2020, apesar da atual crise financeira.
"Eu acho que isso terá uma influência muito positiva sobre as negociações", afirmou à Reuters, na Argélia, Yvo de Boer, que comanda o secretariado. "Ele deu sinais de que pretende assumir um papel de liderança nacionalmente e internacionalmente." "Acho que esse tipo de declaração será encarado como um imenso sinal de encorajamento para a comunidade internacional", disse a autoridade em uma entrevista concedida durante uma conferência africana sobre o meio ambiente.
'UM DESAFIO POSSÍVEL DE SER VENCIDO'
De Boer afirmou que o volume norte-americano de emissão de gases do efeito estufa encontrava-se 14 por cento acima dos níveis registrados em 1990, mas que era possível reduzi-lo para aquela meta dentro do prazo previsto (2020). A autoridade da ONU disse: "Acho que isso é realizável. Trata-se de um desafio, mas de um desafio que pode ser vencido".
Há anos, os países europeus pressionam os EUA a assumirem um papel de maior destaque nos esforços de combate às mudanças climáticas a fim de que a China e a Índia, cujas emissões aumentam em um ritmo maior do que a média mundial, sigam o exemplo dos norte- americanos.
Obama, do Partido Democrata, que várias vezes criticou o atual presidente dos EUA, George W. Bush, por sua atitude em relação ao aquecimento global, disse que o governo dele fixaria metas rígidas responsáveis por colocar o país no caminho de reduzir suas emissões para os níveis de 1990 até 2020 e cortá-las em mais de 80 por cento até 2050.
Pelo Protocolo de Kyoto, 37 países desenvolvidos aceitaram diminuir suas emissões, até 2008-2012, para um patamar 5 por cento inferior ao registrado em 1990.
A comunidade internacional pretende concluir um novo acordo para suceder o Protocolo de Kyoto. Esse acordo seria firmado em uma cúpula prevista para ocorrer em Copenhague, no final de 2009. Mas as pressões feitas sobre os países pobres, que não se comprometeram com cortes em Kyoto, para adotar metas compulsórias alimentam tensões entre o bloco das nações desenvolvidas e o das nações em desenvolvimento.
Os altos índices de pobreza da África, onde três quartos da população dependem da agricultura, significam que essa é a parte do mundo menos apta a enfrentar mudanças nos padrões climáticos provocadas pelo aquecimento global, afirmam especialistas. "Nós precisamos mesmo usar a chance de Copenhague para elaborar um novo regime que seja mais benéfico para a África", disse de Boer.
"Os países africanos, na verdade, vêm sendo bastante modestos nas negociações, até este momento. Esse encontro na Argélia representa uma chance para 53 países africanos adotarem uma postura coletiva, o que lhes dará mais força no processo de negociação", disse o chefe do Secretariado.
Questionado sobre se a aparente sensibilidade de Obama para as questões climáticas e o fato de o presidente eleito ser filho de pai africano ajudariam a fortalecer a África nas negociações sobre o clima, de Boer respondeu: "Eu acho que vocês deveriam fazer essa pergunta ao senador Obama. Ele deixou muito claro que ele é antes de tudo um norte-americano. Mas vamos ver como ele desenvolverá sua política internacional".
(Por William Maclean, Reuters, O Globo, 19/11/2008)