O que é preciso para conseguir que os governos responsáveis pelo colapso eminente das pescas do Atum Rabilho do Mediterrâneo e do Atlântico Este acordem e façam algo? Que tal um poster dos “Piratas do Mediterrâneo” com os rostos dos Ministros responsáveis, publicado na revista “The Economist”? Que tal mais de 10.000 e-mails? E que tal várias toneladas de cabeças de atum deitadas à porta do Ministro das pescas francês?
Os activistas da Greenpeace despejaram cerca de 5 toneladas de cabeças de atum em frente ao Ministério das Pescas Francês em Paris. Este foi o ponto alto de protesto da campanha que exige o encerramento das pescas de atum rabilho no Mar Mediterrâneo e na zona Este do Oceano Atlântico, antes que esta espécie entre em colapso.
A acção foi agendada para coincidir com a abertura da reunião anual da Comissão Internacional para a Conservação do Tunídeos do Atlântico (International Commission for the Conservation of Atlantic Tunas – ICCAT) em Marraquexe, organismo responsável por gerir as populações de atum do Oceano Atlântico e do Mar Mediterrâneo, formado por representantes de 45 países e pela União Europeia.
Não disparem contra o mensageiro
No princípio deste mês, a Greenpeace publicou um anúncio na revista semanal “The Economist” e no “European Voice”, com a ajuda de donativos de Itália, de França e de Espanha. O anúncio aponta o dedo aos Ministros das pescas destes três países, por terem enorme responsabilidade pelo estado em que hoje se encontram os stocks do atum rabilho no Mediterrâneo.
Na legenda do poster publicado lê-se: “A pesca do atum rabilho no Mediterrâneo está à beira do colapso. Estes Ministros deveriam salvaguardar o futuro, mas em vez disso estão a deixar a indústria pilhar um tesouro insubstituível. Se não ordenarem o encerramento das pescas imediatamente, alguém deverá fazer com que caminhem na prancha”.
Usamos a mesma imagem num postal electrónico, com versões em espanhol, italiano e francês. O postal foi enviado por mais de dez mil pessoas, e agora os Ministros estão a receber em seus correios correspondência com a sua cara.
A França lidera o colapso
A França detém a presidência da União Europeia e está a usar essa posição para colocar os interesses a curto prazo da indústria de pesca à frente da necessidade de salvar os stocks de atum do colapso. Este favorecimento já dura vários anos e as quotas têm sido estabelecidas bastante acima das recomendações da comissão científica do ICCAT, chegando a tal ponto que muitos cientistas estão a alertar publicamente sobre os riscos de colapso dos stocks.
Um artigo na “The Economist” desta semana cita Raül Romeva, um eurodeputado de Espanha que diz que o relatório sobre o estado da pesca da Agência Comunitária de Controlo das Pescas foi sanitizado e censurado, porque os seus conteúdos são vergonhosos.
Em 2006, depois de vários anos em que se verificaram níveis elevados de pesca pirata, o ICCAT concordou com um “plano de recuperação” que estabelece um máximo de 29.500 toneladas para o Atlântico Este e Mar Mediterrâneo. A própria comissão científica do ICCAT recomendou um limite máximo de 15.000 toneladas, mas este limite foi ignorado. Estes cientistas estimaram que as capturas de atum rabilho foram cerca de 61.000 toneladas em 2007.
“O tempo e o atum estão a acabar” disse o responsável de campanha da Greenpeace Internacional François Provost, que está a participar na reunião do ICCAT.
“O ICCAT está completamente enganado, o seu plano de recuperação está em farrapos, as pescas estão totalmente fora de controle e os locais de desova estão a ser esvaziados todos os anos, quando deviam estar a ser protegidos.”
Encerrem as pescas já
O ICCAT deve encerrar a pesca do atum rabilho imediatamente. A pesca não deve recomeçar até que:
Sejam criadas reservas marinhas que protejam as áreas de desova
A capacidade de pesca seja reduzida para valores sustentáveis
Seja criado e implementado um novo plano de gestão, de acordo com as recomendações dos cientistas.
A menos que sejam dados passos firmes na reunião desta semana, estes países, que são membros do ICCAT, serão culpados pela gestão que levou ao colapso de uma das pescas mais importantes e mais lucrativas do nosso tempo, e serão responsáveis pela destruição da forma de sustento dos pescadores da região.
A Greenpeace está a fazer campanha pela criação de uma rede global de reservas marinhas que abranja 40% dos oceanos, como forma de os proteger dos malefícios das alterações climáticas, para restabelecer a saúde dos stocks, para proteger a vida marinha, para impedir a destruição dos habitats e evitar o seu colapso.
(Greenpeace, 19/11/2008)