Los Angeles - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se comprometeu nessa terça (18), perante governadores de vários países, inclusive do Brasil, a adotar medidas para reduzir as emissões de gases estufa do país em 80%, até 2050, em relação aos níveis de 1990. Essas e outras metas eram compromissos de campanha, agora reafirmados na primeira reunião climática após a eleição do novo presidente daquele país. A medida pode beneficiar o Brasil em iniciativas para evitar o desmatamento da Amazônia, avaliam governadores do Pará, Mato Grosso e Amazonas.
Para atingir a ousada meta, Obama se comprometeu a chegar a 2020 com emissões nos mesmos níveis de 1990. Vale lembrar que os Estados Unidos são os maiores emissores de gases estufa do mundo, hoje seguidos de perto pela China, e até hoje nenhum presidente de lá havia se comprometido com qualquer meta para reduzir o lançamento desses poluentes.
O anuncio foi feito por meio de um vídeo (ao lado, em inglês), enviado de surpresa à Conferência dos Governadores sobre Clima Global, que está acontecendo em Los Angeles, Califórnia. Na mensagem, Obama reconhece que os Estados Unidos, sob o governo Bush, não tratou o assunto com a atenção que merece. "Vamos mudar isso radicalmente", disse. "Não podemos mais negar esta responsabilidade. Quando eu for presidente, todo o país que quiser lutar contra a mudança climática terá um aliado na Casa Branca", completou. Será que com o republicano John McCain teríamos discursos assim?
Obama adiantou também que pretende incentivar investimentos em geração de “energia limpa”, como solar e eólica. De acordo com ele, a perspectiva é de que iniciativas como estas criem 5 milhes de "empregos verdes" nos Estados Unidos.
A mensagem, apresentada pelo anfitrião do encontro, o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, recebeu entusiásticos aplausos de governadores dos Estados Unidos e de países como Brasil, Indonésia, China, Canadá, Índia, Austrália e de representantes da Comissão Européia, entre outros.
Dirigentes amazônicos
Os governadores Ana Júlia Carepa (Pará), Blairo Maggi (Mato Grosso) e Eduardo Braga (Amazonas) participam do evento e festejaram as promessas de Obama. Segundo eles, isso pode representar investimentos em projetos na Amazônia, por meio de operações no mercado de carbono. Os brasileiros apostam na possibilidade de empresas poluidoras dos Estados Unidos e de outros países ricos financiarem projetos que levem à redução do desmatamento na Amazônia, em troca de créditos de carbono. Assim, essas nações se adequariam às metas de redução de poluentes definidas pelo Protocolo de Quioto, por exemplo.
Pelas contas de Blairo Maggi, o Mato Grosso precisa de cerca de R$ 5,4 bilhões por ano para remunerar o desmatamento evitado. Entram na conta apenas os 20% de área da propriedade que a lei permite que sejam desmatados na Amazônia. "Se o agricultor cortar a floresta para criar gado ou plantar, poderia ganhar cerca de R$ 300 reais por hectare. Então, essa é a quantia que precisaremos para remunerar cada hectare mantido em pé", disse.
O governador avalia que não há mais "ambiente" para a conversão de novas áreas de floresta em fazendas de gado ou lavouras em seu estado, costumeiro líder dos índices de perdas florestais na Amazônia, sem contar as derrubadas de Cerrado e de “áreas de transição” entre esses biomas. Por isso, faz campanha também para financiar a “verticalização” da atividade econômica no Mato Grosso. "Somos grandes produtores de alimentos, mas precisamos industrializá-los para que a soja ou a carne saiam prontos para serem consumidos", diz. De alimentos mesmo, seu estado produz bem pouco, como mostrou O Eco.
Afinada com o discurso do governo federal e desafinada com a realidade do consumo de madeira no país, Ana Júlia Carepa, governadora do Pará, disse que "não é possível combatermos o desmatamento sem combatermos a pobreza". E seguiu. "Nosso desafio é transformar a economia florestal numa atividade econômica sustentável, com qualidade de vida para o povo que vive lá. Os países ricos são os maiores responsáveis pela pressão sobre a floresta. Então, não adianta eles fazerem discurso e apoiarem um projetinho. Preciso que se comprometam seriamente com o combate à pobreza na região", disse. Na verdade, o Brasil é o maior consumidor da madeira que sai legal e ilegalmente da Amazônia.
A governadora espera, por exemplo, que governos e empresas de países ricos apóiem, com doações, o Programa 1 Bilhão de Árvores para a Amazônia, que pretende restaurar um milhão de hectares em áreas de reserva legal e de preservação permanente no Pará.
De acordo com o secretário de Meio Ambiente do Pará, Valmir Ortega, atividades ilegais na floresta, como desmatamento e extração de madeira, movimentam cerca de R$ 2 bilhões por ano. "Ou seja, precisamos de captações da ordem de bilhões de reais para fazer frente ao problema", disse. Segundo estimativas do governo paraense, cerca de 90% das emissões estaduais de gases estufa vêm do desmatamento.
O governador do Amazonas, Eduardo Braga, fez as contas de quanto precisa só para manter unidades de conservação estaduais: cerca de R$ 120 milhões - ou cerca de US$ 50 milhões anuais. Braga avalia que a soma não é nada descomunal para países ricos. "Não estão computados aqui os serviços ambientais prestados pelas unidades. Apenas os custos que temos para sua manutenção", disse. Ele avalia que, se os serviços ambientais fossem remunerados, a soma chegaria a US$ 750 milhes ao ano, ou quase R$ 2 bilhões.
Preservar e recuperar
Os governadores brasileiros pretendem que a preservação e a restauração de florestas ocupe mais espaço entre as alternativas para a redução das emissões de carbono no âmbito das Nações Unidas, algo que o governo federal vem tentando. Eles avaliam que, até agora, as florestas não ocuparam o lugar que merecem e as discussões avançaram mais nas áreas de produção de combustível e de geração de energia.
De acordo com estimativa do World Resources Institute, de Washington, desmatamento e lavouras são responsáveis por 23% das emissões de gases estufa no mundo, a segunda posição no ranking. As maiores emissões, de acordo com o estudo, são provocadas pela geração de energia (35%).
A Conferência de Governadores se encerra hoje (19), com a assinatura de declaração com propostas para discussões nos círculos multilaterais das Nações Unidas. O governador Arnold Schwarzenegger não pensa mais em “exterminar o futuro” e disse esperar mudanças importantes na postura dos Estados Unidos nas negociações sobre mudanças climáticas. "Somos (os EUA) os maiores poluidores do mundo. Chegou o momento de reconhecer isso e lutar junto com outros países contra as mudanças do clima", disse.
(Por Warner Bento Filho*, OEco, 19/11/2008)
* Jornalista em Los Angeles, Estados Unidos