O cientista político e coordenador da organização não-governamental (ONG) Repórter Brasil, Leonardo Sakamoto, disse hoje nesta terça-feira que, ao contrário do que o governo diz, há trabalho escravo nas usinas de produção de etanol. Segundo Sakamoto, de janeiro até agora, foram libertados mais de 1.800 trabalhadores de fazendas de cana-de-açúcar.
- No ano passado, esse número chegou a mais de 3 mil. Em 2006, foram 300 e, no ano anterior, 1.500. O trabalho escravo não é resquício do passado. Ele existe para reduzir ou zerar o custo da produção, tornar o empreendimento competitivo. Ou seja, o dono da usina explora os trabalhadores durante anos e guarda capital para um dia comprar máquinas depois de usar a mão-de-obra à exaustão - afirmou.
O geógrafo Plácido Júnior, pesquisador da Comissão Pastoral da Terra de Pernambuco, considera nocivo o etanol produzido no Brasil a partir da cana-de-açúcar, porque tem como base a produção em grande escala, concentrando a terra, além de ser oriundo de monocultura.
- A produção de etanol é tão prejudicial quanto qualquer outro monocultivo, seja de soja ou de eucalipto, porque impacta diretamente a vida do planeta, as águas, o meio ambiente e a vida do trabalhador - disse.
De acordo com o geógrafo, é no setor sucroalcooleiro que se concentra a maior parte de trabalho escravo no país.
- É uma convivência harmoniosa entre o moderno e o capital internacional, que concentra terra e renda e tem na sua essência o trabalho escravo. E é um modelo que visa apenas exportar, e não atender à necessidade do povo brasileiro.
Plácido enfatizou que um dos impactos da expansão da cana-de-açúcar no Brasil é a destruição dos diversos biomas existentes no país. Outro problema é que essa cultura empurra as comunidades de quilombolas, indígenas e camponeses para regiões ribeirinhas, já que os cultivos se apropriam das áreas antes habitadas por essas pessoas.
- Além disso, as terras disputadas pela reforma agrária estão sendo disputadas pelo agronegócio da cana. Ou seja, o Brasil tem milhões de hectares improdutivos, que poderiam ser destinados à reforma agrária e estão sendo apropriadas pelo grande capital para a produção sucroalcooleira - acrescentou o geógrafo.
Para ele, a solução para o problema não está só na mudança do modelo de agricultura, mas também na criação de um modelo de agricultura camponesa, que pode construir a soberania alimentar e energética de forma sustentável no país. Entretanto, acrescentou, é preciso discutir mais do que isso.
- Temos que discutir que modelo de sociedade queremos construir. Há um conjunto de fatores que deve ser discutido coletivamente, da produção até o consumo dessa matriz energética - enfatizou
(Agência Brasil, J
ornal do Brasil Online, 18/11/2008)