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amazônia
2008-11-19
Aconteceu ontem, no Teatro da Universidade Católica (Tuca), o debate "Outra Amazônia - Laboratório das Biocivilizações do Futuro", com a presença de Ignacy Sachs, professor honorário da École de Hautes Etudes em Sciences Sociales - Centro de Pesquisa do Brasil Contemporâneo.  O objetivo do evento era responder a um dos vários desafios que a nova conjuntura global apresenta à humanidade: a questão amazônica.

Segundo Antônio Martins, diretor da edição brasileira do Le Monde Diplomatique e mediador do debate, "a timidez das iniciativas para resolver esse problema [da Amazônia] é inversamente proporcional à grandiloqüência dos discursos que o cercam.  Não se trata de uma crise apenas econômica, mas de desigualdades".  Participaram do debate Ladislau Dowbor, Economista da PUC-SP, Guilherme Leal, representante da empresa de cosméticos Natura, Marcelo Furtado, do Greenpeace e Caio Magri do Instituto Ethos.  Gilmar Mauro, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), havia confirmado presença, mas não conseguiu chegar por dificuldades de transporte.

O professor Sachs iniciou sua explanação - baseada num artigo de sua autoria sobre o mesmo tema, e de livre circulação - ressaltando a importância simbólica da escolha de Belém, capital paraense, para ser a sede do Fórum Social Mundial de 2009.  "A Amazônia tem funcionado há cinco séculos no imaginário europeu com uma visão essencialmente formada por preconceitos: ora ela é o paraíso, ora utopia do planeta, ora inferno verde, etc. Isso tem que mudar.  Temos que entender que somos todos amazônidas, no que diz respeito aos serviços ambientais que ela presta, que têm importância mundial".  Sachs fez questão de ressaltar, entretanto, que esse argumento não serve para corroborar a idéia de internacionalização da floresta: "A Amazônia é responsabilidade e privilégio dos brasileiros".

O que fazer?
Para Sachs, é preciso recontextualizar o debate no momento histórico que a humanidade está vivendo, com o fim do paradigma neoliberal e o enterro do mito do mercado auto-regulatório.  Agora, segundo o professor, é o momento de encontrar respostas para as seguintes perguntas: que tipo de desenvolvimento e em que tipo de Estado nós o queremos?  "Estamos na saída da Era do Petróleo, seja pela proximidade de seu pico (descobertas de novos poços inferiores ao consumo), seja pela necessidade de redução dos gases de efeito estufa, para que se evitem mudanças climáticas deletérias e irreversíveis", afirma.

Sachs acredita ser chegada a hora de se observar o potencial da biocivilização moderna, com uso múltiplo da biomassa, pois a humanidade tem capacidade de buscar essas soluções visando uma nova etapa no processo de desenvolvimento.  Nesse contexto, de procura de alternativas para as mudanças climáticas e para a "desigualdade social abismal" em que vivemos, a Amazônia aparece como um "laboratório extraordinário" por seus recursos naturais, biodiversidade e clima propício à produção de biomassa.  Para isso, seria necessária uma gestão ambientalmente correta dos recursos e serviços, detectando potencialidades latentes da floresta.  O professor finaliza enumerando - sem se deter muito sobre eles - problemas candentes da região e a forma como ele acredita que podem ser resolvidos.

Ressalvas
Na seqüência da fala do professor, os outros debatedores foram convidados a se posicionar frente a suas colocações e seu texto. Guilherme Leal, da Natura, acredita que todos devem aprender lições com a crise para criar uma visão de desenvolvimento socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável. "Temos que pensar para além da Amazônia, assumindo uma posição estratégica diante do patrimônio natural que possuímos".

Já Marcelo Furtado, do Greenpeace, pegou no ponto da participação da sociedade nessa mudança de paradigma.  Para ele, a fase do "ecoxiismo" passou e agora só há lugar para o "radical com proposta". "Cada parcela da sociedade deve assumir sua responsabilidade de mobilização, deixando de ser meras espectadoras para exercer a cidadania de fato".

Furtado criticou a postura do governo Lula e do ministro do Meio Ambiente Carlos Minc frente aos problemas ambientais do país, em especial os amazônicos. "Não existe um modelo pensado para a região, e a sociedade não cobra do governo essa mudança de paradigmas.  Para buscar essas alternativas, é preciso confiança no poder público.  E esse governo não tem credibilidade para isso", disse.

Caio Magri, do Ethos, também relacionou sua fala com a crise financeira mundial, lembrando a importância de se controlar toda a cadeia produtiva dos produtos amazônicos, e disse que é necessário um controle da sociedade e dos governos que faça os mercados agirem de forma diferente.  O professor Ladislau Dowbor seguiu na mesma linha, colocando a questão da governança e a necessidade de construção de uma convergência social e política em busca de instrumentos que façam funcionar de maneira "mais decente" esse processo.

Protesto
No final do debate, representantes indígenas presentes lamentaram a ausência de um representante seu na mesa, para debater sob seu ponto de vista as questões colocadas, bem como criticaram a postura do professor Ignacy Sachs, chamando-o de desenvolvimentista, com uma visão etnocêntrica e contraditória com aquilo que no início de sua explanação ele disse combater.

Para ler o texto de Ignacy Sachs e conhecer mais sobre o debate "Outra Amazônia", acesse: http://outraamazonia.wordpress.com/

(Amazonia.org.br, 19/11/2008)

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