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etanol biocombustíveis cana-de-açúcar
2008-11-19

A conferência internacional em São Paulo começou com muitos elogios ao etanol brasileiro de cana de açúcar. Era normal que fosse assim da parte dos ministros do governo, especialmente de Dilma Rousseff, da Casa Civil. O Brasil fala em estímulo ao desenvolvimento através do etanol nos países mais pobres e há grande interesse dos africanos.

No princípio, parecia uma operação destinada a mudar a imagem do Brasil no exterior, onde há muita polêmica acerca das conseqüências ecológicas e da alta dos preços dos alimentos devido à produção de biocombustíveis.

Mas o interesse suscitado pela primeira conferência internacional, organizada a pedido do presidente Lula feito no ano passado, ultrapassou todas as expectativas. Estão presentes 92 delegações de países e de organizações internacionais, além de entidades brasileiras.

A Suíça tem 4 delegados, mas o ministro do Meio Ambiente, Energia, Transportes e Comunicações (Detec) Moritz Leuenberger, anulou sua presença para dedicar-se a questões políticas internas mais urgentes. Além disso, estão presentes grandes especialistas nacionais e estrangeiros nos debates organizados em painéis temáticos abertos a todos, dissipando boa parte da impressão propagandística inicial.

Na abertura da conferência, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff – que representou o presidente Lula – disse "que o mundo precisa passar por uma transição da economia do carbono para a economia pós-carbono e que os biocombustíveis são uma fase transitória importante na matriz enérgica dos transportes."

Debates abertos
O governador de São Paulo José Serra esteve presente e falou da importância do setor álcool-açucareiro para o estado. Citando dados que situam o Brasil como país com matriz energética mais renovável do mundo, Dilma disse que 47,5% das necessidades de energia país são obtidas com energias renováveis. Segundo os mesmos dados, a média mundial é de 12,9% e de 6,7% nos países mais industrializados da OCDE.

A ministra criticou a forma com que o assunto vem sendo abordado no mundo, incluindo o etanol de cana como ameaça à segurança alimentar.

A "visão brasileira", disse a ministra, demonstra que o uso do álcool de cana como combustível oferece "segurança energética e sustentabilidade ambiental". Citou dados do aumento da produtividade da cana desde a década de 70 e disse que, no mesmo período, a produção de grãos cresceu 142%. Disse ainda que está em curso um zoneamento nacional do plantio de cana, com exclusão de biomas sensíveis como a Amazônia o Pantanal e a Mata Atlântica. A ministra concluiu que a conferência ajudaria a eliminar teses "que carecem de embasamento científico."

Sessões plenárias
Muitos aspectos que envolvem a produção e comercialização dos biocombustíveis estão em discussão nas plenárias da qual participam especialistas brasileiros e estrangeiros, com participação do público. Um relatório de cada painel será apresentado aos ministros, na parte mais política da conferência, quinta e sexta-feira.

O tom desses painéis é em geral de entusiasmo com o etanol de cana e um pouco menos com o biodiesel, misturado atualmente em 3% do diesel fóssil, mas produzido por enquanto essencialmente de soja, até que novas matérias primas sejam viáveis em escala industrial. Fala-se da juventude do biodiesel (cinco anos) comparada à experiência de mais de 30 anos do uso de etanol.

No primeiro painel foi abordada a questão da segurança energética. Márcio Zimmermann (secretário executivo do Ministério das Minas e Energia) disse que a segurança energética "é peça fundamental no padrão de vida de um povo." Explicou que o Brasil adotou o etanol nos anos 70 depois de uma crise do petróleo e que ele tornou-se um fator redutor de risco na segurança energética.

Segundo Zimmermann, o etanol responde hoje por 16% de toda a energia para transportes gerada no Brasil, atrás do petróleo (37%) e à frente de outras energias renováveis (15%) e do carvão vegetal (12%).

Todos os demais membros do painel: Richard Jones, (EUA), Richard Murphy (Reino Unido), Ibrahim Assane Mayaki (Níger) foram muito elogiosos ao etanol brasileiro. A única ressalva foi de Christoph Berg, questionando a exportação do modelo brasileiro. "O Brasil tem espaço, tecnologia, pesquisa, infra-estrura e mercado. Os Estados Unidos também, mas quem mais tem essas condições?".

Menos CO2
O nigerino Mayaki disse que a África precisa criar um mercado regional e receber ajuda para formar pessoal e transferir tecnologia. "O Brasil aprendeu e nós também podemos aprender", disse Mayaki, diretor-exeucutivo da Ong HUBRural.

O Brasil considera pode ser um fator de desenvolvimento para os países pobres da África e da Ásia e se diz disposto a transferir tecnologia. Por sua vez, esses países contribuiriam para a produção global de biocombustíveis, menos poluentes do que o petróleo, reduzindo o efeito estufa. Nos cálculos do Ministério das Minas e Energia, desde a introdução do etanol, em 1973, o país evitou a emissão de 800 milhões de toneladas de CO2.

Alan Kardec Pinto, diretor da Petrobras Biocombustíveis, disse que os biocombustíveis não são a solução do problema, mas parte da solução e que os países em desenvolvimento podem participar. Lembrou que 20 países produzem petróleo para 200 países e que cerca de 100 países podem produzir biocombustível.

Mudanças climáticas
Na plenária sobre biocombustíveis e mudanças climáticas o cientista e diretor-executivo do Fórum Brasileiro sobre Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa, disse que a crise ambiental poderá ser muito mais grave do que a crise financeira.

Para o presidente do Woldwatch Institute, Christopher Flavin, Brasil, China e Índia devem assumir papel importante também na questão climática e que o Brasil ainda tem muito potencial em energia solar e energia eólica.

Os países africanos, que pouco contribuem (menos de 4% das emissões) para as mudanças climáticas, poderão ser os mais prejudicados. O senegalês Thierno Bocar Tall, diretor do Fundo Africano de Biocombustíveis e Energias Renováveis,
explicou que, "se nada for feito, vamos perder 400 milhões de hectares de terra em alguns anos." Para evitar isso, ele espera contar com a parceria do Brasil no plantio de cana e produção de etanol.

(Por Claudinê Gonçalves, swissinfo, 18/11/2008)


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