Hans Blix, antigo chefe dos inspectores ONU para o Iraque (UNSCOM, 2003), garantiu hoje temer mais os efeitos da mudança climática no planeta do que as armas de destruição em massa.
O diplomata e político sueco falava sobre "Programas Nucleares Mediterrânicos e a Problemática para a Proliferação - Regimes de Não-Proliferação e o Impacte na Segurança Regional e Internacional", no quadro da conferência "O Mediterrâneo, o Norte de África e a Ameaça Nuclear", realizada no Instituto de Estudos Superiores Militares (IESM).
Hans Blix começou por chamar a atenção para os 450 reactores nucleares actualmente em funcionamento no mundo, que "suscitam preocupação e até angústia nas populações sobretudo devido ao receio de acidentes". O director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica - AIEA (organismo regulador das Nações Unidas - ONU entre 1981 e 1997) insistiu em que o principal aspecto negativo da energia nuclear reside no factor segurança.
Mas apontou igualmente o aspecto positivo decorrente da não emissão de gases com efeito de estufa que provocam o aquecimento global e a mudança climática. No plano da segurança, o chefe da diplomacia de Estocolmo entre 1978 e 1979 admitiu o perigo de uma escalada nuclear envolvendo países que estão em posição de adquirir componentes - nomeadamente através de contrabando -, ou organizações terroristas determinadas a possuir a "bomba suja".
Oito países - Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França, Índia, Paquistão e Israel - possuem 27.000 ogivas nucleares, assinalou. Mas, além dos aspectos negativos, Hans Blix sublinhou o aspecto positivo do nuclear face ao aquecimento global, ressalvando que é "uma saída entre várias possíveis".
O antigo chefe da UNSCOM (Comissão das Nações Unidas para a Monitorização, Verificação e Inspecção) frisou que "a procura de energia está em aumento no mundo, sobretudo da parte dos países desenvolvidos e emergentes". Na década de 1980, as centrais nucleares tinham uma esperança de vida de 25 anos, mais do que duplicada passadas três décadas.
Daí, ser vital, segundo o académico sueco, recorrer igualmente às energias alternativas. "O acesso ao petróleo e ao gás natural representa uma ameaça política que resulta do controlo das áreas de extracção", designadamente em África, Médio Oriente e Ásia Central.
Os grandes actores são os Estados Unidos, a Rússia e a China, ainda envolvidos na disputa pelos traçados dos oleodutos e gasodutos, precisou. "Com o tempo, nesta corrida entrarão os países emergentes, o que resultará numa potencial subida de preços", concluiu Hans Blix.
A conferência foi uma iniciativa do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa e da Liga de Combatentes.
(Lusa, 18/11/2008)